O surgimento de estruturas de concreto submersas desde a década de 1970 deu novo tom de alarme à seca que assola a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Pela primeira vez desde a construção da represa Vargem das Flores, em 1972, alicerces de moradias inundadas à época podem ser vistos na barragem entre as cidades de Contagem e Betim. O retrato do passado traz à tona histórias de quem viveu nas fazendas desapropriadas para dar lugar à água, mas soa também como alerta para um futuro crítico. Por trás do quadro sombrio, além de uma estiagem histórica, estão o volume perto de zero da chuva neste mês e perspectivas ruins para a próxima estação chuvosa. A combinação aumenta a
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Seca na Vargem das FloresMais da metade dos bairros de BH e outras sete cidades ficam sem água no domingoAfluentes do Rio São Francisco secam pela primeira vez Mais quatro cidades adotam rodízio no abastecimento de água em Minas GeraisEventos e esportes náuticos estão proibidos na Vargem das Flores no CarnavalEspecialistas temem que falta de chuva prejudique retirada de água do ParaopebaFornecimento de água será interrompido neste domingo na Grande BHAbastecimento de água é interrompido nesta sexta-feira em Belo Horizonte, Contagem e Ibirité Temperatura em BH bate recorde e chega a 37 grausEm Vargem das Flores – sistema responsável por 15% do abastecimento da Grande BH –, o cenário inédito assusta moradores e comerciantes. Mesmo alheia aos números que dão a dimensão da crise hídrica na Grande BH, a pensionista Vilma Diniz, de 64 anos, entende que a situação é preocupante.
Ao analisar os níveis das barragens do Sistema Paraopeba, o professor Carlos Barreira Martinez, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG, chama a atenção para a gravidade do problema. “Apesar de os reservatórios estarem cumprindo a função, que é a de operar em épocas de baixa afluência, a situação é preocupante, porque eles estão, ano a ano, cada vez mais secos”, afirma, destacando outro complicador: a previsão de pouca chuva. “Há um temor de que em 2016 e 2017 a situação se agrave. Os reservatórios com certeza vão voltar a se encher, mas, com os baixos índices pluviométricos, há possibilidade de que não se recuperem nos próximos anos.”
Diante desse panorama, o especialista faz duas ressalvas. Ele garante que, por um lado, a Copasa vai ter que melhorar o gerenciamento dos recursos hídricos, com obras de captação e redução das perdas de água potável, que ainda ultrapassam 30% do produzido. Em contrapartida, a população precisa economizar.
Chuva zero
Segundo o meteorologista Cléber Souza, do Instituto Nacional de Meteorologia, ainda não houve chuvas significativas para contar no registro de outubro, que deve ficar bem abaixo da média histórica (123 milímetros). Em mais um dia de recorde, BH teve ontem a temperatura mais alta do mês (máxima de 36°C, com 29°C à noite). A umidade relativa do ar chegou a 14%. O clima considerado “de deserto” deverá continuar na próxima semana. Com predomínio de massa de ar quente sobre o Sudeste do país, chuvas significativas devem ocorrer no estado só na última semana do mês.
A Copasa informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o risco de desabastecimento na Grande Belo Horizonte está afastado, com as obras para nova captação no Rio Paraopeba. A companhia esclarece que a água armazenada nos reservatórios do Sistema Paraopeba é suficiente para garantir o abastecimento de toda a população atendida por ele na Grande BH, considerando-se o pior cenário, que seria o de não chover a partir do fim do período de estiagem.
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