A escolha de Belo Horizonte como capital mineira foi marcada por lances de manipulação do uso do regimento do Congresso mineiro e pela especulação imobiliária nas cidades candidatas ao posto. Qualquer semelhança com a atualidade brasileira não é mera coincidência. Tudo começou com a proclamação da República, em 1889, e, dois anos depois, com a realização do primeiro Congresso Constituinte, que, entre outras coisas, questionava se era apropriado mudar a capital do novo estado. “Deve-se!”, respondiam os moradores das regiões mais prósperas do interior de Minas, principalmente Zona da Mata e Sul. “Não deve-se!”, protestavam os ouro-pretanos, temerosos com a perda do posto e com tudo o que isso significava em matéria de esvaziamento de poder, influência política e investimentos.
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Documentos que deram origem a Belo Horizonte viram Patrimônio da HumanidadeIrmãos mineiros vão à Justiça para esclarecer se são descendentes de dom Pedro INo mesmo período, O Contemporâneo, de Sabará, defendia ardentemente Belo Horizonte, atacando as outras candidatas. “Havia suspeitas de especulação imobiliária por toda parte, e não era só isso. A proximidade geográfica com a nova capital atrairia investimentos, inclusive públicos, com o incremento da arrecadação fiscal dos estados promovido pela Constituição Federal de 1891”, observa o coordenador do Pró-Memória, que estuda a história da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Guilherme Nunes de Avelar Neto. Ele lembra que até 1891 toda a renda nacional era concentrada no governo imperial, que repassava o que queria para os estados. A Constituição republicana criou impostos estaduais e, assim, os estados passaram a ter o próprio dinheiro.
A votação, em três turnos, seria em Outro Preto, mas o clima na cidade era de revolta com a mudança e a campanha para a manutenção da capital no local era intensa. O temor de um tumulto ou de um atentado – os ouro-pretanos ameaçaram explodir o plenário de votação com dinamite – amedrontaram os constituintes e fez com que o presidente do Congresso Mineiro, Bias Fortes, usasse o regimento e, em sessão extraordinária, transferisse a eleição para Barbacena. Foram três turnos de votação, os dois primeiros vencidos por Várzea do Marçal. “No turno final sobraram Belo Horizonte e Várzea do Marçal.
O jornal A Folha, porém, conta que em Barbacena, depois de ter vencido os dois primeiros turnos, o senador Pedro Drumond, desmontando o parecer técnico do engenheiro-chefe Aarão Reis, que apontava Várzea do Marçal como favorita, apresentou uma emenda “singela”: “Emenda ao art. 1º. Em vez de Várzea do Marçal, leia-se Bello Horizonte”. A emenda teria sido aprovada por 30 votos contra 28. Estava definido o local onde seria erguida a nova capital. Verdade ou mentira, a partir daí começa o processo de construção da estrada de ferro que iria trazer materiais de construção para Bello Horizonte e, em seguida, a construção da capital propriamente dita. O prazo de entrega era de quatro anos, mas a cidade foi inaugurada aos 3 anos, 11 meses e 25 dias do início da construção. A inauguração, marcada para 17 de dezembro de 1897, fora antecipada para 12 de dezembro.
Linha do tempo
1889 – Proclamação da República
1891 – Primeira constituinte de Minas Gerais, que decidiu de mudar a capital do estado
1893 – 17 de dezembro: escolha da região de Belo Horizonte para a construção da nova capital mineira
1894 – Começa o processo de implantação da estrada de ferro que traria os materiais para erguer a nova capital
1897 – 12 de dezembro: inauguração antecipada da capital de Minas Gerais.