No princípio, era uma vastidão de terras virgens habitadas pelos índios. Depois, vieram os portugueses e os jesuítas trazendo com eles a fé cristã. Os colonizadores fundaram povoados, vilas e cidades, que cresceram em torno de uma capela. Some-se a isso o desembarque de escravos africanos em território nacional, com suas crenças e cultura, e o Brasil estava fértil para se transformar no caldeirão de fé, promessa e milagre que se mostra vivo e pulsante há mais de cinco séculos. O Estado de Minas encerra hoje a série de reportagens Provas de fé, iniciada domingo, sobre o esforço humano, pedidos e graças obtidas pelos pagadores de promessa que singram o Brasil todos os anos em busca de santuários católicos e outros lugares sagrados. Mas o que têm a dizer sobre fé, promessa e milagre outras grandes religiões e doutrinas que se estabeleceram no país e, além delas, a psicologia?
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Gravidez de professora considerada infértil levou à beatificação de Padre VictorCorais de religiões diferentes se reúnem em culto ecumênico Irmãos mineiros vão à Justiça para esclarecer se são descendentes de dom Pedro IEm seguida, já numa cadeira de rodas, ela e o marido viajaram para Aparecida e, depois, a Guaratinguetá. No Santuário de Frei Galvão, a dentista viu as fotos dos testemunhos de milagres nas paredes e os peregrinos pegando as pílulas do religioso, que nada mais são que pedaços de papel abençoados no santuário. Quando voltou para casa, ela e a família fizeram uma novena.
A existência de milagres, acontecimentos fora da ordem natural e inexplicáveis à luz da ciência, não é unanimidade entre as três maiores religiões monoteístas do mundo: cristianismo, judaísmo e islamismo. E nem mesmo na doutrina espírita. “Deus é um só, uma única fonte. A diferença está na interpretação. Milagres não existem em nossas vidas, eles foram dados na vida do profeta Mohammed (Maomé) ”, acredita o guia religioso da comunidade islâmica em Minas, Mokhtar Elkhal, para quem as promessas são “chantagens com Deus”. Já os evangélicos acreditam em milagres. “Trata-se de algo sobrenatural, que normalmente não aconteceria, mas que ocorre para glorificar Deus, e não o homem”, afirma o presidente do Conselho de Pastores de Minas Gerais, Jorge Linhares, da Igreja Batista Getsêmani. Ele ressalta que todo milagre para glorificar o homem é uma incoerência com a palavra de Deus, a Bíblia sagrada.
Para a religião judaica, o milagre existe e é parte da história do povo judeu, diz o rabino da Congregação Israelita Mineira (CIM), Uri Lam.
No caso das promessas, a visão é diferente. “Em vez de fazer promessas, nós rezamos diariamente para que seja da vontade de Deus nos dar forças para cumprirmos com as nossas obrigações. Pedimos para que Deus nos dê saúde e sustento para cumprirmos com aquilo a que nos propomos”, diz o rabino.
Merecimento Para os espíritas, não há milagres, mas merecimento. “Há, sim, merecimentos espirituais de quem recebe a dádiva de Deus, por meio da mediunidade”, conta Marcelo Gardini, diretor da União Espírita Mineira, instituição existente no estado desde 1908. Ele esclarece que, embora não haja ritos de promessa na doutrina, as pessoas podem fazer pedidos e receber bênçãos divinas por meio de preces, tratamentos espirituais e passes (transfusão de energia magnética).
Encontro com Deus, o sagrado, os santos e os orixás. Esse é o sentido da fé para os umbandistas, diz o zelador da Casa do Divino Espírito Santo das Almas, Pai Marcelo de Oxóssi.
Aconteceu comigo
“Desde muito jovem, sempre tive fé no Padre Libério. Ele morreu em 1980, em Leandro Ferreira, Centro-Oeste de Minas, e eu tive a graça de conhecê-lo e receber suas bênçãos, era um santo homem. Ele saía a cavalo, visitava as pessoas, benzia as casas e trazia muita paz aos lugares por onde passava. Uma vez, ele foi até a minha casa na zona rural. Pedimos para que abençoasse o lugar com sua água benta, porque apareciam muitas cobras. Depois desse dia, nunca mais elas apareceram. Quando perdi um filho que tinha acabado de completar 16 anos, eu fiquei muito triste e transtornado e foi o Padre Libério que me socorreu. Ele me deu uma benção e depois me disse: 'Toda vez que pensar no seu filho, você reza e pede a Deus por ele.' Assim eu fiz, e, aos poucos, a dor foi se acomodando. Recentemente pedi a ele a cura de um netinho que estava com problemas de saúde e fui atendido. E assim, na minha vida inteira, foram várias graças pedidas e alcançadas. Sempre fiz promessas para o Padre Libério e ele nunca falhou. Ensino uma coisa importante para os meus filhos e para minha família: promessa não é coisa de se guardar, é feita para ser cumprida.”
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