No texto, o parlamentar justifica o projeto de lei com questionamentos: “O que você acha de sair para jantar com alguém e a outra pessoa ficar o tempo todo mexendo no celular? Ou, quando você está em um restaurante, desfrutando de uma ótima companhia, em um ambiente gostoso, o telefone celular da mesa vizinha toca e a pessoa atende falando alto e faz você participar da conversa mesmo sem querer?”, pergunta o deputado. Segundo ele, o objetivo da proibição é resgatar o hábito das conversas nos encontros familiares, de amigos ou em reuniões de negócios nesses locais. Ele afirma ainda que, além do inconveniente da interrupção das conversas, há o risco de contaminação dos alimentos. “Hoje em dia, a pessoa serve a comida falando no celular, com chance da saliva cair na comida”, afirma. Segundo Silveira, o texto segue para a avaliação da Comissão de Constituição de Justiça da Assembleia nos próximos dias.
A reação entre os representantes dos bares e restaurantes contra a proposta foi firme. “É ridículo, inconstitucional”, afirma Lucas Pêgo, presidente da Abrasel, que não acredita na aprovação da proposta. “Nossa assessoria jurídica já avaliou o projeto e concluiu que ele atenta contra a constituição, por ferir o direito da liberdade individual e da legalidade”, afirmou. Além disso, Lucas defendeu que o texto “é mais uma das propostas de lei que transfere a responsabilidade individual para donos de bares e restaurantes e ultrapassou os limites do bom senso”.
ERA DIGITAL Ele adiantou que a Abrasel vai propor à Comissão de Constituição e Justiça a rejeição já na primeira etapa de tramitação. “Estamos em plena era digital. As pessoas estão se apropriando da tecnologia e esse é um caminho sem volta. Não vejo problema nisso e acredito que cada um deve usar o celular como quiser. Ter uma lei dessa no estado seria um retrocesso e uma vergonha para os donos de estabelecimentos que tivessem que avisar isso para clientes e turistas”, destaca.
Surpresos com a notícia da tramitação do projeto, frequentadores de bares e restaurantes do Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, ficaram divididos quanto à proposta. Há quem defenda que o celular deva ficar desligado nos encontros sociais, almoços e jantares. “Me incomodo muito com as pessoas sempre de olho no celular, porque gosto de conversar e interagir com todos na mesa”, afirmou a aposentada Ionice Salgado Borges, de 65 anos, enquanto almoçava com a filha, o genro e uma amiga. Os três, no entanto, discordam de Ionice. “O celular mudou as relações sociais e, ao contrário do que pensa o deputado, ele não desconecta as pessoas, e abre outras possibilidades de interação”, afirma Marcus Martins, de 35, genro de Ionice. A mulher dele, Lorena Borges, de 35, crê que pode haver exagero, como no cinema ou no teatro. “Mas no bar não é a tecnologia que incomoda e sim a forma como as pessoas a usam. Não acho que a solução seja proibir”, diz.