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Estado de Minas

Incêndio no Rola-Moça aprisiona moradores na Região do Barreiro

Enquanto chamas devastam o Rola-Moça, fumaça e fuligem obrigam moradores da região a manter janelas fechadas, apesar do forte calor. Gerente confirma que incêndio é criminoso


postado em 18/10/2015 06:00 / atualizado em 18/10/2015 07:11

A fumaça provocada pelo incêndio que consome a vegetação do parque desde quarta-feira cobriu o céu de cinza e põe em risco a saúde das pessoas que vivem no entorno da área de preservação ambiental (foto: Cristina Horta/EM/D.A.Press)
A fumaça provocada pelo incêndio que consome a vegetação do parque desde quarta-feira cobriu o céu de cinza e põe em risco a saúde das pessoas que vivem no entorno da área de preservação ambiental (foto: Cristina Horta/EM/D.A.Press)
 

O azul do céu de primavera se tornou cinza nos últimos dias na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, e nos bairros dos municípios de Ibirité e Brumadinho, na região metropolitana, localizados no entorno do Parque Estadual do Rola-Moça. A fumaça e a fuligem do incêndio que segue devastando, desde quarta-feira, a vegetação de mata atlântica e de cerrado e matando diversas espécies animais típicas na área de preservação, estão causando transtornos às famílias que residem próximo à reserva. Apesar das altas temperaturas, os moradores estão sendo obrigados a permanecer com as portas e as janelas de suas residências fechadas dia e noite.

Ontem, o gerente-geral do parque, Marcus Vinícius de Freitas, confirmou que o incêndio na mata é criminoso. Segundo ele, na quarta-feira, um segurança da Copasa que estava no ponto de apoio no Morro do Cachimbo, instalado dentro da área de reserva, viu um homem iniciando as chamas. “A informação é de que o criminoso ateou fogo em vários pontos do parque, próximo à linha férrea no Barreiro, a cada 20 metros em linha reta. O funcionário avisou os bombeiros, que chegaram a ver o homem e correr atrás deles, mas o indivíduo fugiu”, disse Freitas.

Para permanecer em suas casas sem adoecer com os problemas respiratórios e conseguir suportar o calor, as famílias que moram próximo ao parque estão recorrendo a ventiladores, panos úmidos, vasilhames com água e umidificadores. E para o desconsolo da vizinhança do Rola-Moça, não há estimativa de quando a situação será amenizada. Mesmo com os trabalhos do Corpo de Bombeiros, brigadistas, técnicos do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Associação Mineira de Defesa do Ambiente, Copasa e dos voluntários que estão atuando quase que 24 horas por dia na tentativa de debelar o fogo, as chamas continuavam avançando pela mata ontem.

A dona de casa Márcia Cristina Pereira Silva, de 39 anos, vive com a mãe idosa, de 93, o marido, de 34, e a filha, de 12, em uma das 70 moradias construídas no Bairro Solar, numa área dentro do Rola-Moça. O cheiro de fumaça tomou conta de todos os cômodos da casa da família e os móveis e o chão da residência estão cobertos de fuligem. A moradora mais velha não dorme desde quinta-feira, com falta de ar. “O calor está insuportável e minha mãe está se sentindo mal, sem conseguir respirar direito. Mesmo deixando as portas e as janelas fechadas, o ventilador e o umidificador ligados, está tudo cheirando a fumaça, o que deixa o ar pesado”, contou Márcia.
Vivemos neste local há 12 anos, e todo ano sofremos com fogo na mata, mas desta vez a situação foi mais grave. Ficamos muito assustados - Manoel Júlio da Silva, frentista(foto: Cristina Horta/EM/D.A.Press)
Vivemos neste local há 12 anos, e todo ano sofremos com fogo na mata, mas desta vez a situação foi mais grave. Ficamos muito assustados - Manoel Júlio da Silva, frentista (foto: Cristina Horta/EM/D.A.Press)


O frentista Manoel Júlio da Silva, de 37, é pai de Victor Hugo, de 1 ano e 7 meses. Preocupado com a saúde do filho, ele e a mulher optaram por deixar as janelas e as portas de casa fechadas desde quinta-feira, quando o incêndio destruiu a mata em frente ao imóvel. Nesses últimos dias, o ventilador e o umidificador permaneceram ligados sem interrupção. O casal também espalhou toalhas molhadas pelos cômodos e não descuida da criança, oferecendo água e suco várias vezes ao dia. “Vivemos neste local há 12 anos, e todo ano sofremos com fogo na mata, mas, desta vez, a situação foi mais grave. Ficamos muito assustados”, disse Silva.

Apesar da situação crítica na região, funcionários da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Barreiro afirmaram não sido registrado um aumento na procura de atendimento devido a problemas respiratórios causados pela combinação da fumaça com o tempo quente e seco.

Combate intenso
O gerente-geral do Rola-Moça e o tenente Bruno França Gonçalves, do 22º Batalhão do Corpo de Bombeiros, informaram ontem que a prioridade é combater o incêndio. Segundo eles, os trabalhos estão concentrados na preservação dos mananciais – seis em toda a extensão do parque – de onde se faz captação de água para o abastecimento da população da capital e da Grande BH. Freitas informou que o parque foi criado com o objetivo de preservar a mata e todo o ecossistema e os campos ferruginosos, formação extremamente rara, que ocorre no local.

Segundo Marcus Vinícius de Freitas, o levantamento da área destruída somente será feito quando o incêndio estiver controlado. Ontem, mais de 150 pessoas foram mobilizadas no combate ao fogo, que começou ainda na madrugada, primeiro na Morro do Cachimbo, depois seguiram para a mata do Barreiro. Foram usados três aviões air-tractor e dois helicópteros, sendo um dos Bombeiros e outro da PM, para levar água até os pontos onde o fogo destruía a vegetação. Dezoito jipeiros se colocaram à disposição das equipes de combate ao fogo.

O advogado Robson Dias, 44, o administrador do grupo Brigada 4x4, fundado em 2011, convocou sua turma pelo Facebook e o WhatsApp. “Não podemos ver uma situação dessa e ficar de braços cruzados”, disse Dias. O empresário Alvarenga Peixoto, 58, e o filho Ícaro Martins, 29, atenderam ao chamado e seguiram de madrugada para o parque.


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