O mestre de obras Anderson Kutschera acordou antes das 7h, apesar do dia de folga, e preparou uma panela de arroz, uma vasilha de vinagrete e temperou os pedaços de alcatra, linguiça e um toucinho de barriga para o churrasco. “Tem que chegar cedo para pegar um lugar bom”, justifica Kutschera, que lotou uma van com outros sete adultos e mais sete crianças, entre filhos, sobrinhos e cunhados, para passar o sábado – um dos mais quentes da história – na cachoeira Chica Dona, em Rio Acima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Do outro lado das montanhas que abrigam a queda d’água, belo-horizontinos e turistas, adultos e crianças correram para praças e parques – como vem ocorrendo nos últimos dias – em busca de um denominador comum: qualquer brisa, água ou sombra para aplacar o calor.
Segundo o meteorologista do Inmet Luiz Ladeia, a previsão é que hoje a temperatura não ultrapasse os 32°C. “Vai aumentar a nebulosidade e pode haver chuva isolada”, informa o meteorologista. A esperança de dias mais frescos vem de uma frente fria que passa pela divisa do Paraná com São Paulo. “Pode jogar um pouco de umidade no continente”, avalia. Os termômetros em alta são reflexo de uma massa de ar quente que está sobre a Região Sudeste e tem relação com o El Niño – fenômeno que aquece a temperatura da água no Oceano Pacífico, na costa do Peru e do Equador.
O calor foi tanto, que a designer Tássia Melo e o engenheiro Alexssander Sampaio saíram de Conselheiro Lafaiete, na Região Central do estado, para apresentar as águas da cachoeira para o filho, Murilo Sampaio, de 1 ano e 5 meses. “Essa é uma das mais bonitas que conhecemos”, entende Alexssander.
O motorista Charleston Wallace Barbosa não reclamou do calor ao manusear os espetos na churrasqueira improvisada para a família Kutschera. Contou com o abastecimento da carga de cerveja levada pela família – 36 latas e muito gelo – para se refrescar enquanto preparava os tira-gostos. “Não tem jeito de fugir do calor”, filosofou Barbosa.
Quem estava do lado de fora da gelada água do Ribeirão Manso sentiu também muito calor humano. A expectativa dos vendedores era de que passassem pela cachoeira mais de 200 pessoas. A cozinheira Odália Rodrigues preparou uma panela de tropeiro, outra de espaguete e mais uma de arroz temperado para vender o prato por R$ 12.
VISTA Do outro lado das montanhas, no sopé da Serra do Curral, os belo-horizontinos e turistas procuraram a parte mais alta da cidade em busca do alívio de uma brisa que não chegou. A designer Luciana Couto levou dois amigos – o jornalista carioca Breno Barreto e a administradora potiguar Marcela Fernandes – para observar a vista da cidade. “É a quinta vez que venho a BH este ano. Ano que vem vou morar aqui”, garante Marcela. O calor da capital mineira, na análise dela, não é páreo para o que ela sente no Rio Grande do Norte. “Das outras vezes, o clima estava bem mais agradável, mas dá para suportar o calor”, avalia a administradora. Bruno, carioca de Cascadura, na Zona Norte da capital fluminense, tirou onda: “Lá no Rio está mais de 40°C”, comparou, enquanto bebia uma água de coco na Praça do Papa.
Já o estudante Guilherme Faria e o advogado José Vicente de Oliveira Silva, que moram em Governador Valadares, na Região do Vale do Rio Doce, estão acostumados com as temperaturas elevadas, mas perceberam uma diferença. “Lá (em Valadares) venta mais. Aqui o ar está parado”, constatou José Vicente. A programação dos turistas hoje será acompanhar a partida entre Cruzeiro e Fluminense, no Mineirão, às 11h, e o anfitrião, o bancário João Vitor Sá, espera muito calor: “Vai estar bem quente”.
PROGRAMAÇÃO ZEN Quem não pode ir até as cachoeiras, clubes ou não tem acesso a piscina dispõe de uma série de opções para sair de casa e aproveitar – com muita água e protetor solar – atividades ao ar livre. Ontem, os parques e praças da capital ficaram lotados e hoje quem desejar pode começar o dia praticando yoga, de graça, em diversos locais. Às 9h haverá aulas nos parques da Mangabeiras (Avenida José do Patrocínio Pontes, 1951), Rosinha Cadar, no Santo Agostinho (Rua Rodrigues Caldas, 315) e Fazenda Lagoa do Nado, no Bairro Itapoã (Rua Desembargador Lincoln Prates, 240).
Torneiras secas
Moradores de Belo Horizonte e de outras sete cidades da região metropolitana da capital terão o fornecimento de água interrompido das 5h até às 18h de hoje. A Copasa vai paralisar o funcionamento do Sistema Rio das Velhas para fazer intervenções na parte elétrica do complexo, além de manutenções que vão garantir mais segurança na captação da água na Grande BH. Todo o sistema elétrico de automação da Estação de Tratamento de Água (ETA) que fica em Nova Lima, será substituído. Os reservatórios e as elevatórias também serão impermeabilizados. A previsão é que o fornecimento de água volte ao normal ao longo da noite de hoje e da madrugada de amanhã. Além de BH, a paralisação vai afetar Nova Lima, Santa Luzia, São José da Lapa, Sabará, Raposos, Ribeirão das Neves e Vespasiano. A lista completa de todos os bairros pode ser conferida no site do EM.