Jornal Estado de Minas

Calor obriga donos de animais a usar a criatividade para lidar com o clima

Na casa de Sabrina Hauque, filhos disputam o climatizador - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.a Press

Um calor do cão. Se o clima vem tornando a rotina difícil para nós, seres humanos, a situação não é melhor para os bichos de estimação. E todo mundo procura do seu jeito escapar das altas temperaturas que vêm castigando os belo-horizontinos nas últimas semanas. Nas lojas, é grande o número de pessoas comprando ventiladores e climatizadores. Nos petshops, aumentou a demanda por banho e tosa de animais. Até sorvete e picolé para cachorro estão faltando no mercado.

O calor em Belo Horizonte deu uma trégua ontem de madrugada, chegando a 16,8 graus, por causa da aproximação de uma frente fria que já está atuando em pontos isolados de São Paulo. No entanto, no meio da tarde os termômetros voltaram a subir e marcaram 34,8 graus, com umidade relativa do ar em 26%. Hoje, a temperatura deve aumentar ainda mais, podendo chegar a 36 graus no meio da tarde, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O céu fica claro e deve haver névoa seca à tarde. Segundo meteorologistas, uma forte massa de ar quente e seco paira sobre as regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. O fenômeno El Niño contribui para que frentes frias fiquem mais concentradas no Sul.

A boa notícia, segundo o meteorologista Luiz Ladeia, do 5º Distrito do Inmet, em Belo Horizonte, é que na quinta-feira a temperatura deve cair para a casa dos 31 graus. A previsão é de céu parcialmente nublado, com possibilidade de chuva no fim do dia. Na sexta-feira, a precipitação tende a ser mais acentuada, com trovoadas isoladas. O mesmo deve acontecer no sábado.

O alívio já vem sendo esperado há muito tempo pelos belo-horizontinos. No último dia 16, a capital mineira atingiu a maior temperatura já registrada desde 1910, quando começaram as medições.
Os termômetros marcaram 37,4 graus, às 14h, calor que superou o recorde anterior, de 37,1 graus em 30 de outubro de 2012. No dia 16, a umidade relativa do ar chegou a 12%, equiparando-se aos índices registrados no Deserto do Saara, que ficam entre 10% e 15%.

Um clima que mudou a rotina das pessoas e de seus animais de estimação. Pretinha e seus filhotes Átila e Maria Amora, da raça Shih Tzu, originária do Tibete, andam recebendo mimos especiais da dona, a arquiteta Daniela Sampaio Drummond, de 21 anos. Por recomendação do treinador, os três estão tomando água de coco fresca e brincando com cubos de gelo. “A gente joga o gelo no chão e eles ficam correndo atrás”, conta a dona.

Segundo a arquiteta, seus cães não querem mais sair do banheiro, da cozinha e de outros cômodos que têm piso mais frio. “Ficam mais quietos com o calor. Passam a maior parte do tempo deitados”, observa a dona. Os passeios com os animais também estão mais curtos, pois eles se rendem e param no meio do caminho, comenta a arquiteta, que passou a tosar os pets com mais frequência, outra forma de aliviar o desconforto.

Em um Pet Hotel da Pampulha, alguns cães se refrescam na piscina.
É o caso de Leãozinho, da raça golden retriever, que, mesmo tendo apenas 2 meses e meio, já nada de um lado para outro da piscina. A sócia do empreendimento Priscila Fernandes Abdalla, de 21, explica que não são todas as raças que podem com a água. “Algumas têm a pele mais sensível e sentem muito frio. Outras têm a cabeça muito grande. Ela pesa e eles afundam”, informa.

Com o calor, os “hóspedes” são mantidos soltos nas áreas mais frescas. Alguns usam a água de beber para se molhar e toda hora o bebedouro precisa ser reabastecido. “Outro cuidado é na hora de passear. O chão não pode estar muito quente e por isso só saímos com eles pela manhã e à tarde, quando o sol está mais fraco”, disse Priscila.

Cristina Sabina da Silva, de 33, que trabalha em um shopping para animais da Avenida Bernardo Monteiro, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de BH, fazia a média de três tosas por dia. Agora, com o calor, chegar a atender oito animais. “Com a crise econômica, os banhos e tosas caíram bastante.
Mas, com o tempo que está fazendo, nem os bichos aguentam. Os donos acabam trazendo-os de volta”, conta.

E as gentilezas não param por aí. Potes de sorvete para cães acabaram em uma farmácia de manipulação da Rua Cláudio Manoel, também no Bairro Funcionários. “Todo mundo está comprando sorvete para seus cães, por causa do calor. As vendas dobraram. A gente sempre pede mais para o fornecedor, mas acaba rapidinho”, disse. O estoque de uma das marcas de picolés para cachorro está quase no fim. “Temos só uma caixa com sabores morango, creme, banana e carne. O que mais sai é o de morango”, conta a farmacêutica Adriana Oliveira, lembrando que os produtos não têm lactose, açúcar ou gordura trans.

DISPUTA


Quem não tem cão, também caça uma forma de se refrescar. Na casa da designer de joias Sabrina Hauque, de 35, o único climatizador é disputado pela família inteira, mas a filha Sophia, de 11, é a privilegiada na hora de dormir.
O irmão dela, Nathan, de 4, tem dormido no quarto de Sophia nos últimos dias, em busca de ar fresco. Até os hábitos alimentares da família mudaram com o calor, conta Sabrina. “Nossa alimentação tem sido com muitas frutas, legumes e saladas, muita água e suco de limão para refrescar. Estamos fazendo de tudo para diminuir o calor, como usar roupas mais leves, manter janelas do apartamento sempre abertas e o ar-condicionado do carro ligado o tempo todo”, conta a mãe, lembrando que quando podem, todos descem para piscina do prédio..