O Velho Chico vai correr na Praça da Liberdade, transbordar em cultura e invadir a capital de histórias. De sábado a 1º de novembro, moradores de Belo Horizonte e visitantes vão mergulhar nos conhecimentos sobre esse patrimônio hídrico durante a exposição Alameda São Francisco: o rio inunda a cidade, que vai mostrar bens culturais registrados durante três anos, na parte navegável do rio, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). Na tarde de ontem, técnicos trabalhavam na montagem dos equipamentos, que, muito apropriadamente, fazem a recriação suspensa do rio da unidade nacional, natural da Serra da Canastra, no Oeste mineiro. O serviço está previsto para terminar na manhã de sexta-feira.
Quem visitar a exposição, promovida pelo Iepha e Circuito Cultural da Praça da Liberdade, com a curadoria de Tereza Bruzzi e Alexandre Rousset, poderá conversar com 40 pessoas vindas de 17 municípios ribeirinhos localizados na parte navegável – de Pirapora até Manga, na Região Norte, na divisa com a Bahia. Estarão presentes para falar sobre ofícios, como a confecção de redes de pesca, crenças, incluindo benzeção e ritos seculares, como a encomendação das almas, música, a exemplo da viola caipira e cantigas, além de culinária e outras manifestações populares.
Segundo os organizadores da mostra, a experiência obtida com o projeto permitiu ao instituto consolidar uma metodologia de inventário e registro própria, pioneira em Minas, a qual poderá ser executada em outras regiões do estado. “Em uma perspectiva de escuta das comunidades, o trabalho reafirma uma proposição de construção de uma política pública de patrimônio, que avança de uma noção material de patrimônio para o reconhecimento da atividade, do processo e do produto cultural”, afirma a presidente do Iepha, Michele Arroyo.
A metodologia, segundo os curadores, coloca o trabalho num lugar de fronteira, surgido entre a preservação da memória imaterial cultural e a instalação cênica. “A ideia foi inserir a figura do cenógrafo como um mediador desse acervo. Transformar o inventário numa instalação. No espaço aéreo das palmeiras teremos um grande rio. E na parte central da montagem estará um pouco da memória de tudo o que foi registrado pelos pesquisadores”, revela Tereza Bruzzi.
INVENTÁRIO Nos três anos, a equipe percorreu o trecho do Velho Chico e identificou os bens culturais da região para promover o registro do seu patrimônio imaterial. De forma colaborativa e com a participação da comunidade, os técnicos fizeram um levantamento dos lugares, celebrações, formas de expressão, saberes e fazeres mais representativos das comunidades ribeirinhas. “Foram identificadas 400 representações culturais, que constam da publicação Caderno do Patrimônio Imaterial: Inventário Cultural do Rio São Francisco”, informa a diretora de Proteção e Memória, Françoise Jean. O lançamento da obra será sábado, às 10h, no MM Gerdau -Museu das Minas e do Metal, na Praça da Liberdade. Entre as atividades da abertura, haverá o Batuque de Ponto Chique, tradicional grupo de percussão da região do São Francisco, conduzindo o público em um cortejo do museu à Praça da Liberdade.
No domingo, a programação continua com o Rei dos Temerosos, grupo nascido na cidade de Januária e que se manifesta por meio de danças e gingados próprios do reisado e da marujada. A roda acontecerá às 10h, na Praça da Liberdade. Já no dia 31 de outubro, encerrando as homenagens ao rio, o grupo de teatro Ponto de Partida apresentará o espetáculo Mineiramente, dirigido por Regina Bertola. A peça será no Circuito Liberdade, às 17h. Durante todo o período da mostra, o Espaço do Conhecimento UFMG exibirá, na Fachada Digital, uma série de imagens do inventário cultural do São Francisco, sempre das 19h às 23h, na ação Tradições do São Francisco na Fachada Digital.