Jornal Estado de Minas

Combinação de calor e baixa umidade aumenta procura por serviços médicos em BH


Com a temperatura batendo recorde histórico na última semana em Belo Horizonte (37,4°C) e cuidados básicos com o corpo nem sempre sendo observados, a população tem sentido na pele os efeitos do sol forte e da baixa umidade relativa do ar, que chegou à marca desértica de 12%. Resultado disso tem sido percebido em unidades de saúde e hospitais da rede pública municipal, onde a média diária de busca por atendimento chegou a crescer 30% neste mês. Embora a partir de hoje os termômetros tendam a entrar em queda, com chuvas isoladas que tiveram início ontem e devem prosseguir até domingo, os cuidados para não sofrer com o calor devem se manter. De acordo com o meteorologista Luiz Ladeia, do Instituto Nacional de Meteorologia, a temperatura volta a subir a partir da semana que vem e os incômodos vão permanecer. Ontem, a marca chegou a 36,3°C na capital, e a umidade ficou em 21%, bem abaixo do nível considerado ideal, de 60%.

Nas unidades de pronto-atendimento da capital, as respostas do corpo a ondas de calor elevaram a média de 300 atendimentos diários para 390. E no Hospital Odilon Behrens, onde a procura batia a casa de 500 pacientes diariamente, o número saltou para 600. De acordo com a médica Paula Martins, integrante do Comitê Gestor de Urgência e Emergência da Rede SUS-BH, o aumento, que não era esperado, veio acompanhado de maior gravidade dos casos. “Muitos pacientes têm chegado com quadros graves de infecção, já com risco de um choque séptico”, afirma.

Nessas condições, o doente pode ter paradas cardíacas ou respiratórias, falência de algum órgão, e até falecer. Segundo a especialista, a maior parte dos atendimentos tem sido motivada por doenças gastrointestinais, mas há também alta demanda para doenças respiratórias, oftalmológicas e dermatológicas . Na rede municipal, os atendimentos por traumas ortopédicos também cresceram, motivados pelo uso crescente de motocicletas e pela prática de esportes ao ar livre.

Ainda de acordo com ela, nenhum caso de insolação foi registrado este mês nas unidades de saúde. No entanto, somente até setembro foram 51 ocorrências do tipo no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, da Rede Fhemig. Na Maternidade Odete Valadares, também da Fhemig, bem como nos hospitais municipais, a falta de ar-condicionado em enfermarias aumenta o incômodo de pacientes. No Hospital das Clínicas da UFMG, houve pane na refrigeração de ar que funciona em parte da unidade, mas ontem o problema já estava contornado.

EFEITO-DOMINÓ Na casa da vendedora Ana Fábia Souto Brandão, de 40 anos, não houve quem escapasse ileso dos problemas de saúde relacionados ao calor. Há uma semana, foi o filho mais velho, Gabriel Brandão, de 8 anos, que apresentou quadro de febre, vômito, diarreia e desidratação.
Na última sexta-feira, o irmão Miguel, de 1 ano, precisou tomar medicação venosa, pelos mesmos sintomas. Em seguida, foi a vez de Ana e do marido, Luciano, ficarem doentes. “No hospital, a médica disse que todos tivemos uma virose, comum para esta época do ano, por causa do calor. Estamos nos hidratando mais e na mesa só estão indo alimentos leves.”

A auxiliar administrativo Michele Beatriz de Queiroz, de 34, também passou muito mal por causa da desidratação. Ontem, ela foi atendida no Centro de Saúde Pompeia, na Região Leste de BH, onde também aumentou a demanda. “Fiquei muito fraca e até desmaiei no trabalho. Comecei a passar mal à 1h da manhã e até as 11h eu não parava de vomitar”, contou. Segundo médica que a atendeu, Rita de Cássia Meira Dias, entre ontem e anteontem foram 12 casos semelhantes.

Diretor do Hospital Infantil João Paulo II, da Fhemig, Luis Fernando Andrade de Carvalho explica a mudança de atendimentos na unidade e faz outra recomendação.
Segundo ele, ainda que não tenha havido aumento no número de pacientes, as demandas por tratamento para casos respiratórios foram substituídas por doenças relacionadas ao calor. “Crianças, bem como de idosos, sofrem rapidamente com o quadro de desidratação. É preciso ficar atento diante de qualquer sintoma”, alerta.

Enquanto isso...

Calor gera alerta em todo o mundo

Os primeiros nove meses do ano bateram recordes de calor no mundo inteiro, o que representa mais um indício de que os riscos do aquecimento global continuam a se intensificar. O alerta foi dado ontem por especialistas do governo norte-americano. O mês passado foi “o setembro com maior temperatura no registro 1880-2015, superando o recorde anterior, batido no ano passado”, informou a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional. O último boletim coloca 2015 mais perto de tirar de 2014 o título de ano mais quente dos tempos modernos. Os cientistas descobriram que setembro superou em 0,9°C a temperatura média do século 20..