Às vésperas do aniversário de 109 anos do voo histórico, na França, de Alberto Santos Dumont (1873-1932), chamado de “pai da aviação”, os mineiros voltam a fazer bonito nos céus do mundo. Pesquisadores do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) subiram ao pódio como integrantes da equipe vencedora do campeonato mundial de corrida aérea Red Bull Air Race, competição em que aviões atingem altas velocidades (até 360km/h) em baixa altitude. Depois de ganhar quatro das oito etapas da temporada 2015, a aeronave pilotada pelo britânico Paul Bonhomme ficou com a maior pontuação do ano, embora chegando em segundo lugar na etapa final realizada no último fim de semana, em Las Vegas (EUA). De fabricação norte-americana e com nove metros de envergadura, o avião teve parte da estrutura em fibra de carbono produzida no câmpus da Pampulha, em Belo Horizonte.
O grupo coordenado por Iscold está envolvido desde 2008 com a Red Bull Air Race; dois anos depois, passou a integrar o Team Bonhomme (Time Bonhomme), que, naquele primeiro ano, sagrou-se equipe campeã. “Este é um ano abençoado para nós, pois mostra que a UFMG sabe fazer engenharia aeronáutica e que o Brasil pode ser muito bom”, comemorou o professor. Ele citou os recordes batidos, este ano, pelo CEA-311, avião monomotor concebido e construído por equipe de alunos e pesquisadores do CEA e apelidado de Anequim (nome da mais veloz espécie de tubarão encontrada na costa brasileira). O monomotor quebrou recordes mundiais de velocidade em cinco modalidades, na categoria FAE C1A – da Federação Aeronáutica Internacional para aviões de 300 a 500 quilos –, e entrou para a história da aviação.
FRENTES DE TRABALHO
O trabalho da equipe se deu em duas frentes, de acordo com informações da UFMG, e um dos objetivos é promover melhorias para reduzir o arrasto aerodinâmico e aumentar a velocidade da aeronave. Iscold explica que o foco é a relação da aerodinâmica dentro e fora do avião. “Precisamos ter ar para queima de combustível e refrigeração, mas não podemos fazer isso de qualquer forma. Nosso papel é obter sempre maior eficiência na aerodinâmica interna e externa”, disse, informando que o trabalho é feito no computador e no campo, com algumas peças produzidas na universidade.
O grupo da UFMG atua também na otimização de trajetórias do avião, a partir de um programa de computador que analisa os circuitos a priori e determina a melhor forma de cumprir o circuito da prova, que dura cerca de 50 segundos. No dia de cada competição, em tempo real, outro programa desenvolvido na instituição detecta erros na trajetória e indica as melhores opções.
No trabalho com o Team Bonhomme, participam ativamente alunos da graduação, entre eles André Goldestein, do 9º período de engenharia espacial – inclusive nos dias de prova, quase sempre a distância, ele está no controle dos softwares e na análise do desempenho do piloto e da aeronave. “Esta é a Fórmula 1 dos ares, é uma competição realmente importante. O bom resultado decorre de união, espírito de equipe e tática. Estamos muito felizes com a conquista”, disse o estudante.
Memória
Mineiro pioneiro
Das montanhas de Minas para a imensidão do ar. O mineiro Santos Dumont foi o primeiro a decolar a bordo de um avião impulsionado por um motor a gasolina. Em 23 de outubro de 1906, voou cerca de 60 metros a uma altura de dois a três metros com o Oiseau de Proie (do francês, Ave de rapina), no Campo de Bagatelle, em Paris, na França. Menos de um mês depois, em 12 de novembro, diante de uma multidão, ele percorreu 220 metros a uma altura de 6 metros com o Oiseau de Proie III. Esses voos foram os primeiros homologados pelo Aeroclube da França de um aparelho mais pesado que o ar e, possivelmente, a primeira demonstração pública de um veículo levantando voo por seus próprios meios, sem a necessidade de uma rampa para lançamento.