Jornal Estado de Minas

Dos consultórios para os palcos

Médica mineira, sensação nas redes sociais, participa do The Voice Brasil


Doutora em saúde, samba e palavras. A médica e cantora Júlia Rocha, de 32 anos, nasceu em Belo Horizonte e trabalha na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Bairro Providência, em Pará de Minas, na Região Centro-Oeste. Especialista em medicina de família e comunidade, a mineira também escreve e publica seus textos, sempre humanizando o cotidiano no consultório, nas redes sociais. “O primeiro post teve 33 mil curtidas”, contou Júlia ao Estado de Minas, no sábado, numa entrevista que “bombou” na internet, com muitas visualizações e comentários. Já na noite desta quinta-feira, ela se apresentou no programa The Voice Brasil, da TV Globo, certa do objetivo de deslanchar também na carreira artística.  Ao final da apresentação, Júlia conseguiu uma vaga no time de Carlinhos Brown.

A medicina toma muito tempo – ela trabalha das 7h às 16h, mas Júlia sabe conciliar. “Chego a atender 30 pessoas por dia. Saio moída do consultório, mas a música me recupera. Medicina causa desgaste físico e mental; o samba tem leveza, me revigora”, disse a médica, sempre de ouvidos bem abertos para, ao lado do marido, Átila Souza, administrador e músico, ouvir Cartola, Noel Rosa, Pixinguinha, Caetano Veloso, Chico Buarque e Arlindo Cruz.
“Gosto de Música Popular Brasileira (MPB) de qualidade e minha voz preferida será sempre Marisa Monte”, revelou.

Para conhecer melhor Júlia, é preciso dividir sua história em três partes, todas em harmonia. Formada em medicina em Pouso Alegre, no Sul de Minas, ela alternou o curso com a apresentação em barzinhos. “Nos primeiros quatro anos, eu já trabalhava e, na sexta-feira à tardinha, pegava o ônibus para BH a tempo ainda de cantar na noite. No domingo, voltava para Pouso Alegre e a semana transcorria normalmente”, afirma.

Na UBS, a médica trabalha das 7h às 16h, e algumas vezes, para relaxar, solta a voz bem baixinho em algum canto. Mas sexta-feira é sagrado: ao terminar o serviço, ela e Átila pegam a estrada em direção a BH para se apresentar em barzinhos e festas. “Eu me considero uma cantora profissional, quero construir uma carreira, gravar CD, fazer shows Brasil afora”, avisa. “Sabe que, às vezes, quando vejo um show meu gravado em vídeo, ficou achando que não sou eu?”, ressalta a médica.

A terceira fase da vida tem a ver com as palavras escritas.
Leitora contumaz, Júlia conta que desde criança tem amor pela redação. E a inspiração brotou há um ano, quando atendeu a um homem de 57 anos, com câncer no fígado. “Procuro dar um olhar humano à história, longe do caráter biomédico. É tipo uma crônica do cotidiano. Nesse caso específico, que mexeu muito comigo, foi quase como um desabafo”, conta Júlia, que se surpreendeu com as 10 mil pessoas que compartilharam o post. Hoje, ela explica que já perdeu a conta do número de textos publicados na internet. “No início, amigos me cobravam um novo post. Agora, estão me cobrando um livro.
Quem sabe?”, conta, com um sorriso simpático.

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