Jornal Estado de Minas

Prefeitura de Ouro Preto reage a rumor sobre HIV, mas estudantes seguem apreensivos


Ouro Preto
– Uma série de depoimentos publicados em uma página de estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) sobre um suposto surto de contaminação pelo HIV na cidade histórica provocou reação da Secretaria de Saúde da prefeitura, que reforçou a rede de atendimento nos postos para oferecer testes que detectam o vírus da Aids. As autoridades sanitárias municipais não confirmam o risco de contágio nem atestam a veracidade da informação, mas sustentam ter agido preventivamente. “Foi para acalmar, pois não podemos dizer que estamos enfrentando um surto de Aids”, afirma a secretária de Saúde, Sandra Regina Brandão Guimarães, comentando a divulgação de nota oficial, ontem.

O texto elaborado pela secretaria e publicado no site da prefeitura informa que são tratadas 58 pessoas infectadas pelo HIV nas cidades de Ouro Preto e Mariana, das quais 11 foram diagnosticadas este ano. “Para poder assegurar tranquilidade à população e garantir um melhor acolhimento, as unidades básicas de saúde foram alertadas para o acolhimento e reforçadas com cotas para a realização de teste de HIV no laboratório da UFOP, credenciado pelo SUS”, informa a nota.

Apesar do tom tranquilizador e das medidas adotadas pela prefeitura, o clima entre estudantes e em repúblicas é de apreensão. No câmpus, uma estudante de medicina de 32 anos disse que um amigo pediu que ela solicitasse um exame de sangue para ele. “Meu amigo viu a história no Facebook e, como havia feito sexo sem segurança, ficou nervoso”, conta a universitária, que faz estágio em um posto de saúde.
“O estudante daqui tem uma vulnerabilidade muito grande, pois tem acesso a drogas, muita bebida e várias festas e, muitas vezes, está longe da família e sem apoio”, comentou.

Em uma república no Bairro Bauxita, próximo ao câmpus, o assunto na tarde ontem entre oito estudantes, de diferentes cursos, eram justamente as informações sobre o surto de HIV. “Fiquei com medo, sim. Quem não ficou?”, disse um deles. O temor se espalhou de tal forma que ele afirma ter recebido mensagens preocupadas de mulheres com quem se relacionou e que moram em outras cidades.

“Duas meninas que vieram para a Festa do 12 (de outubro) e ficaram na república de um amigo também me ligaram preocupadas”, relata o universitário. Ele diz ter feito o exame no ano passado e atesta que não pretende fazê-lo novamente.
A comemoração é realizada a cada feriado de 12 de outubro e reúne alunos e ex-alunos da universidade, além de muitos turistas.

O boato, como trata a Secretaria de saúde, começou a se alastrar após o último evento, com a publicação de um relato anônimo na página “Spotted” dos universitários da Ufop (leia ao lado), no dia 18 deste mês. O depoimento teria partido de uma estudante que teria mantido relações sexuais com mais de 10 pessoas por semana. “Transava com todo cara que eu pegava e usei camisinha apenas algumas vezes”, escreveu. No relato, ela se diz desesperada após ter recebido a confirmação de que estava com vírus.

Outra informação difundida pela rede social foi que teria ocorrido durante a Festa do 12 uma espécie de “roleta-russa sexual”, em que pessoas se relacionavam após um “sorteio” e não usavam preservativo. Recém-chegada à universidade, uma estudante de nutrição de 18 anos diz que foi alertada para tomar cuidado durante as comemorações do dia 12. “Disseram que rola bebida em excesso e que o povo fica muito doido”, relata a estudante.


No Centro de Saúde da Ufop, no câmpus, uma funcionária relata que nas últimas semanas o atendimento a interessados no exame de sangue para HIV foi grande. “Foi muito além do normal”, confirma.

CAMPANHA A Secretaria de Saúde informa que, diante do alarme, serão realizadas atividades de conscientização da população sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. As ações vão ocorrer nas unidades de saúde da cidade, na comunidade estudantil e em locais públicos. Todo o atendimento é gratuito e oferecido pelo SUS.

Páginas spotted

Páginas desse modelo são usadas por estudantes desde 2013. Cada qual tem um administrador, que não revela a identidade dos participantes. Funciona como uma espécie de correio elegante, em que usuários indicam por quem se interessaram. Há páginas desse modelo da Ufop, na UFMG e na Universidade Federal de São João del-Rei, por exemplo. A maioria das mensagens da página Spotted Ufop tem esse perfil. Os alarmes sobre o possível surto de Aids foram um assunto destoante do conteúdo geral.
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