Muito calor mesmo no período chuvoso. O clima que marcou Belo Horizonte ontem, com recorde de temperatura seguido de pancadas de chuva, deve ser a tônica dos próximos cinco meses tanto na capital como no interior de Minas Gerais, segundo previsão do centro de meteorologia da Cemig. No dia em que BH registrou pela segunda vez em uma semana a mais alta temperatura desde 1910 (37,7°C) e teve chuva rápida à tarde e constante à noite, com rajadas de vento de até 80km/hora, a companhia de energia elétrica anunciou que ondas de calor devem ser frequentes em todo o estado entre novembro e março de 2016.
A temperatura registrada ontem em Belo Horizonte foi a maior entre capitais do Sudeste – os termômetros registraram 35,4°C em Vitória, 31,4°C no Rio de Janeiro e 21,9°C em São Paulo. E a previsão para o fim de semana é de calor acima dos 30°C na capital mineira, mesmo com perspectiva de chuvas moderadas. Para o período chuvoso, de novembro a março, a Cemig aponta para temperaturas altas em Minas, acima da média dos mais de 100 anos de medição no estado. A ação do El Niño, segundo o meteorologista da empresa Arthur Chaves de Paiva Neto, vai dividir o estado em intensidade de calor e volume pluviométrico. No Oeste e Norte, as chuvas vão ficar abaixo da média. Já nas regiões Central, Sul e Leste, os índices pluviométricos devem ficar na média no período, principalmente em novembro e dezembro.
“Nós temos a expectativa de um início de novembro chuvoso. A partir da próxima semana, já deve haver bastante chuva. Mas isso não quer dizer necessariamente que todo o período vai ser assim”, explica Arthur Neto. “Há uma expectativa de que tenhamos valores altos no próximo mês e em alguns períodos de dezembro, mas valores baixos entre janeiro e fevereiro”, completa. De acordo com o meteorologista, a previsão é de que a Região Metropolitana de BH tenha precipitações dentro da média, mas com a ressalva de que a chegada da chuva não significará o fim do calor.
“Minas está numa situação um pouco complicada porque fica exatamente na área de transição entre as duas regiões do país. Em alguns momentos, o clima no estado vai se comportar como o do Sul, com muitas chuvas, e em outras como o do Norte e Nordeste, com pouca chuva”, disse Neto. “Então, aquelas bacias que ficam mais ao sul tendem a receber mais água até historicamente. E as bacias que ficam mais ao norte, não. Em termos de geração de energia, aquelas usinas que vão receber mais água potencialmente poderão gerar mais”, destacou o meteorologista, ao falar sobre os impactos climáticos no fornecimento de energia.
Os ventos fortes provocaram queda de energia na Grande BH no fim da tarde e à noite, quando houve rajadas de até 80km/hora na Região Centro-Sul de BH, segundo a Defesa Civil municipal. A Cemig informou que entre as 21h e as 22h faltou luz nos bairros Gutierrez e Prado, Oeste da capital. A situação voltou ao normal depois que técnicos da empresa fizeram reparos na rede. De acordo com a companhia, com a chuva e o vento, objetos e galhos de árvores entram em contato com a fiação e causam o desligamento do sistema. O fornecimento de eletricidade também foi afetado em Ribeirão das Neves, Nova Lima e Caeté.
Consumo em alta Com base nas previsões, a Cemig anunciou medidas para o período chuvoso no estado. Segundo Arthur Neto, como as altas temperaturas vão continuar, o consumo de energia vai subir. “Quando você tem longos períodos sem chuva, naturalmente no verão aquece bastante. Então, há um aumento no uso de aparelhos como ar-condicionado”, disse o meteorologista. Para tentar evitar a falta de energia durante o período de chuvas em Belo Horizonte e cidades da região metropolitana, a Cemig investiu R$ 227 milhões em melhorias e manutenção da rede de distribuição. Uma das mudanças é o aumento da potência na Grande BH. Outra medida é a inauguração da Subestação Calafate, que vai entrar em operação em dezembro e ampliará a capacidade de suprimento do sistema elétrico da Região Oeste.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a Cemig aumentou a potência instalada em 105 megavolt ampere (MVA), recapacitou 40 quilômetros de linhas de distribuição e construiu 31 quilômetros de linhas. As mudanças, segundo a empresa, permitirão o atendimento a novos consumidores e o aumento da flexibilidade de operação em situações de emergência. A abertura de outras duas estações é esperada para 2016. “Para o ano que vem, nós temos dois importantes investimentos, a Subestação Centro e a Subestação Nova Lima”, detalha Carlos Augusto Reis de Oliveira, superintendente de Relacionamento Comercial com Clientes de Distribuição.
A Cemig apresentou dados do desempenho do sistema elétrico nos últimos anos na RMBH. A Duração Equivalente por Consumidor (DEC), que mede as horas que os consumidores ficaram sem energia, vinha apresentando queda de 2012 a 2014. No entanto, neste ano houve um aumento.
Estragos na cidade administrativa
Apenas 15 minutos de ventania foram suficientes, na tarde de ontem, para causar estragos na Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, em Belo Horizonte. O forro do vão central do Edifício Minas se quebrou em várias partes, levando pânico a muitos servidores estaduais que deixavam o trabalho por volta das 16h. A força dos ventos, acompanhados de muito pouca chuva, arremessou as placas brancas de gesso a uma distância superior a 25 metros, obrigando um “exército” de faxineiros a entrar em ação. O nono andar do prédio também sofreu os efeitos do fenômeno, com portas quebradas. Segundo o porteiro Milton Bastos, muitos funcionários ficaram assustados. “Foi rajada de vento muito intensa. Abri uma porta que dá acesso ao mezanino para o pessoal passar”, afirmou. A praça de alimentação teve que se fechada. “Foi horrível. Nunca vi nada igual por aqui”, disse a funcionária de uma lanchonete. Na escala de vento Belfort, que vai de 1 a 12, BH e os municípios vizinhos de Ribeirão das Neves e Nova Lima registraram índices 7 (muito forte) e 8 (fortíssimo), no fim da tarde. O fenômeno de ventos fortes, resultante da alta temperatura e aumento da pressão, deverá anteceder as chuvas moderadas neste fim de semana em boa parte de Minas, incluindo Região Central, Sul e Zona da Mata. Na Região Centro-Sul o vento chegou a 65,52 km/hora e na área do Venda Nova foi de 57,6 km/hora. (Gustavo Werneck)