O aposentado João Fernandes Martins, de 68 anos, é o senhor das plantas em Lavras Novas. Sabe tudo sobre as ervas medicinais da região e lista de cabeça 22 qualidades disponíveis e suas aplicações. Tem a malva-rosa, que é boa para o estômago, pois faz arrotar, a arnica, que deve ser colocada na cachaça e tomada pela manhã, após levar um tombo, ou o losmão. “Amarga igual fel, mas é bom para dor de barriga”, afirma João, que diz procurar médico muito raramente. “Minha pressão é igual de menino”, garante.
O conhecimento prático do João – e de vários outros senhores e senhoras do distrito – foi tema de tese de doutorado defendida por Alexandre Américo Almassy Júnior, na Universidade Federal de Viçosa (UFV), com o título: “Análise das características etnobotânicas e etnofarmacológicas de plantas medicinais na comunidade de Lavras Novas”.
O trabalho de Amassy Júnior alertou para o impacto negativo do turismo em relação à utilização das plantas. Isso acontece pois, com a chegada dos visitantes, a transmissão do conhecimento para os jovens se tornou mais rara, pois os mais novos valorizam menos a tradição lavranovense. Além disso, ele constatou que a perda do tradicional hábito do cultivo de plantas medicinais se deve, em parte, à redução da área disponível nos quintais dos moradores, transformada em quartos ou casas de aluguel.