Não foi a primeira vez e ainda não há certeza se será a última. No primeiro grande temporal da atual estação chuvosa, na noite de anteontem, uma combinação de fatores fez lembrar os tempos em que a água tomava o asfalto da Avenida Vilarinho, formando um rio de lama e sujeira e deixando um rastro de prejuízo e mortes. Por uma combinação de falta de obras, excesso de chuva, deposição de lixo em vias públicas, as cenas de horror voltaram a ocorrer, desta vez com uma dimensão inédita, embora felizmente sem mortes. Além desses fatores, moradores e comerciantes denunciam mudanças na rede de drenagem para construção da Estação Vilarinho, do Move. Quem mora, trabalha ou passa pela avenida ainda se questionava na manhã de quarta-feira sobre a recorrência das enchentes, e cobrava saída definitiva. Especialista da UFMG diz que solução técnica existe, mas depende de investimento. Enquanto isso, três obras que somam R$ 217,6 milhões e poderiam minimizar as inundações estão atrasadas.
Na avaliação do professor Márcio Baptista, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a rede de drenagem no entorno da Avenida Vilarinho é antiga e já não suporta o volume de água da chuva. “A galeria de drenagem é grande, mas foi dimensionada para uma situação que não existe mais. Venda Nova sofreu processo de urbanização crescente, o que tornou a região cada vez mais impermeável. É preciso ação da prefeitura para resolver o problema”, afirmou o especialista, lembrando que a equipe da PBH tem conhecimento da necessidade de obras. “Mas são caras e faltam investimentos”, disse.
O próprio secretário da Administração Regional Venda Nova, Cláudio Sampaio, reconheceu a necessidade de ampliação do sistema de drenagem. Segundo ele, apesar das intervenções para evitar inundações, a chuva de ontem mostrou que “a prefeitura precisa ampliar a capacidade de bacias (de detenção) na região”, pois a rede de drenagem “não deu vazão para toda a água da chuva”. Ele afirma, no entanto, que já há intervenções previstas e em fase de licitação. “Elas vão ajudar a diminuir a velocidade da água que desce pela avenida”, afirmou, sustentando que a construção das duas bacias na Avenida Várzea da Palma e Vila do Índio já contribuiu para redução de danos. “As obras estão saindo do papel. Mas estas são intervenções que não são construídas da noite para o dia”, disse.
Ele frisou ainda que o volume de 57 milímetros – 46% do total previsto para todo o mês de outubro na cidade – é altíssimo para o intervalo e que causaria problemas em qualquer cidade. “É um volume que ninguém espera. Não acontece sempre e pega todo mundo de surpresa”, afirmou Cláudio Sampaio.
O problema de inundações na Avenida Vilarinho é histórico. Em 1997, uma grande enchente deixou a via interditada e três mortos por afogamento. Segundo o secretário, funcionários da Sudecap vão vistoriar e fazer manutenção nos canais da rede de drenagem da via, com o objetivo de checar se há alguma obstrução da galeria.
Ontem a equipe do Estado de Minas percorreu os cerca de seis quilômetros da Avenida Vilarinho e encontrou indícios de que o córrego encheu em toda a extensão da via . O resultado foram 60 carros arrastados e empilhados. Ontem foram feitas vistorias em seis dezenas de imóveis, dos quais 38 atingidos pela água e 24 com danos.
Mesmo em trechos bem distantes de onde veículos ficaram empilhados, bueiros estavam cheios de lama, galhos, folhas, plástico, papéis, garrafas e outros tipos de lixo. No canteiro central da avenida também estavam espalhados pneus e garrafas plásticas. Em um dos bueiros localizado bem perto da pilha de carros formada pela enchente, praticamente não havia espaço para a passagem da água. Sacos, pratos descartáveis, pedaços de isopor, garrafas e galhos bloqueavam o fluxo da água. Já em duas das três aberturas do canal do córrego, muita sujeira ficou presa nas barreiras de concreto.