Jornal Estado de Minas

Jovem que viu namorado ser morto e foi estuprada por assaltante dá detalhes do crime

Ao tentar escapar, motorista se chocou contra a murada de pedras - Foto: PMMG/Divulgação
Assassinato, tentativa de morte, violência sexual. O passeio de um jovem casal em um mirante no Parque Estadual do Rola-Moça, a poucos quilômetros da entrada do distrito de Casa Branca, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, teve um fim trágico no início da madrugada de ontem. Surpreendido por um homem armado, o técnico em telefonia e TV a cabo William Avelino Souza, de 30 anos, ainda tentou reagir, mas acabou morto com seis tiros. O criminoso em seguida estuprou a namorada de Souza, a operadora de caixa D.K.S.M., de 20. E, depois de cometer a violência sexual e agredir a jovem com puxões de cabelo, tapas no rosto e mordidas, ele a esganou até que ela perdesse os sentidos. Na sequência tentou matá-la, a jogando desacordada no precipício.


Mesmo com o nariz quebrado, o pulso e o ombro deslocados e escoriações por todo o corpo, D. despertou e conseguiu forças para escalar o barranco. Ao retornar ao carro do namorado, um Peugeot 206 cinza, ela ainda tentou socorrê-lo, mas ele acabou morrendo no banco do motorista.
Como o celular dela e de Souza haviam sido levados pelo assaltante, ela resolveu ir em busca de socorro. Andou por cerca de quatro quilômetros em direção à portaria do parque, até ser encontrada por policiais que estavam na viatura do tenente Juarez Antônio da Silva, do 48º Batalhão da PM.

“Estávamos rastreando uma ocorrência de roubo no distrito e deparamos com o Peugeot atravessado na estrada, no mirante da Serra. Dentro do carro havia o corpo de um jovem com marcas de tiros”, contou o policial.

- Foto: Ainda segundo o tenente Juarez, eles estavam no local do crime, quando se aproximou um homem em um veículo e avisou que havia uma garota, aparentemente machucada, pedindo ajuda mais à frente na estrada. “A jovem estava muito abalada e nos contou o que aconteceu. Que ela e o namorado chegaram ao mirante por volta da meia-noite e lá já havia um carro estacionado. Quando eles resolveram ir embora, um desconhecido se aproximou do veículo deles e anunciou o assalto”, detalhou o militar. A jovem informou que no momento da abordagem o namorado se assustou.
Ele ligou o carro e chegou a arrancar, mas o assaltante atirou várias vezes.

Baleado, Souza perdeu o controle do carro e bateu numa mureta de pedra. O assaltante se aproximou novamente do veículo, retirou D. pelos cabelos e a levou para o outro lado, onde a mandou tirar toda a roupa e a estuprou. Todo o tempo, o homem manteve a arma apontada para a cabeça da vítima. Após a violência sexual o criminoso tentou matar a jovem, apertando seu pescoço até que ela desmaiasse. Em seguida, a jogou no precipício.


D. estima que tenha recobrado a consciência alguns minutos depois da queda. Ela contou que só pensava no namorado e que precisava escalar o barranco para tentar salvá-lo.

Segundo ela, estava muito escuro e com muita neblina. “Enquanto eu subia, eu acabei escorregando e bati a cabeça. Mas sabia que tinha de ter força para escalar. Lembro que quando entrei no carro, o relógio marcava 1h25. O William estava desacordado, fiz de tudo para salvá-lo, mas ele não resistiu. Minha roupa e minhas mãos ficaram todas sujas com o sangue dele”, lembrou a jovem.

O tenente Juarez foi quem informou a família de D. e de William sobre o ocorrido. Porém, no primeiro momento, o aviso era de que haviam sofrido um acidente. A irmã da jovem, a bombeira civil, D.C.S.M., de 25, e o marido dela, o estoquista G.L.S.N., 27, seguiram para o parque do Rola Moça para acompanhar os trabalhos dos policiais militares e dos peritos. Os dois lamentaram a morte de William e disseram que a jovem teve muita sorte.
“Minha irmã viveu novamente. Agora, vamos ter de ficar ao lado dela, para ela superar todo esse terror que ela passou”, disse a irmã.

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LIBERADA A jovem atacada pelo assaltante foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levada para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS). Ela também passou por exames na Maternidade Odete Valadores. Teve material colhido para futuro confronto de DNA e possível identificação do agressor. Recebeu medicamentos contra gravidez, doenças venéreas e AIDS. À tarde, teve alta.

ENTREVISTA

D.K vítima

“Não tem explicação toda essa crueldade”

Ainda muito abalada, D. tentava superar o trauma de ter visto a morte do namorado e em seguida ter sido vítima de violência sexual.  “Ele manteve a arma apontada para a minha cabeça todo o tempo. Me deu tapas no rosto, me mordeu. Ele foi cruel”, disse ao Estado de Minas, por telefone, enquanto aguardava a alta no HPS. Como o mirante do Parque do Rola Moça não tem iluminação, ela afirma que não conseguiu ver o rosto do criminoso.


Como foi a abordagem do assaltante?

Ele se aproximou do lado da janela do William e perguntou se ele estava sozinho.
Ele mentiu, tentando me proteger e disse que estava só. Nesse momento, o bandido o mandou sair e disse que era uma assalto. Não consegui ver o rosto dele. Estava muito escuro. Só sei que ele era bem magro.

E qual foi a reação do seu namorado?


Ele se assustou. Ligou o carro e arrancou. Mas o bandido atirou várias vezes. Depois que o carro bateu no barranco (murada), ele se aproximou. Me arrancou lá de dentro, me puxando pelos cabelos e disse que tudo o que iria fazer comigo era ordem do capeta.

Ele ameaçou te matar?

Ele manteve a arma apontada para a minha cabeça todo o tempo. Me deu tapas no rosto, me mordeu, e depois de me estuprar apertou meu pescoço com muita força até eu desmaiar. Ele foi cruel. Matou meu namorado por nada, porque só levou os nossos celulares. O William era um bom garoto. Não bebia, não fumava, era trabalhador. Não tem explicação toda essa crueldade. Ele acabou com nossas vidas.

Como ficou? 

Serra do Cipó


Condenados por dupla morte


Em um crime muito semelhante ao que resultou na morte de William Avelino de Souza e no estupro de sua namorada, ontem à noite, em Brumadinho, em 3 de janeiro de 2014 os namorados Alexandre Werneck de Oliveira, de 46 anos, e Lívia Viggiano Rocha Silveira, de 39, foram mortos por dois assaltantes na Serra do Cipó. As vítimas foram abordadas em um mirante e Alexandre foi o primeiro a morrer, assassinado a tiros. Em seguida, a dupla estuprou Lívia e a executou. Os criminosos jogaram os corpos no Rio Santo Antônio. A polícia só conseguiu localizá-los cinco dias depois. Durante as investigações, Helton Moreira de Castro, de 19, e Marcos Magno Peixoto Faria, de 25, foram identificados como autores do duplo homicídio. Os dois confessaram os assassinatos. Em 16 de setembro, a Justiça sentenciou Helton a 48 anos de prisão por latrocínio, estupro e ocultação de cadáver. Marcos já havia sido condenado em maio a 32 anos e 10 meses de prisão em regime fechado pelos mesmos crimes.
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