Natural de Miguel Calmon, na Bahia, Maria Sirley Lopes Rios Freitas, de 51 anos, mudou-se para Minas, estado em que nasceu seu marido, há 14 anos. Em fevereiro deste ano, a família, que morava em Itabira, transferiu-se para Conceição do Mato Dentro. Nos primeiros dias, Sirley não tinha amigos nem tinha o que fazer. Foi quando tapetes arraiolos de uma feira de artesanato atraíram o seu olhar. Ela não só gostou, como teve o desejo de aprender aquela técnica. Ao buscar informações, chegou ao Projeto Mulheres Tapeceiras, uma iniciativa da Associação Escolar Fazenda de Artes e Ofícios de Conceição do Mato Dentro (Aefao). “Vi os tapetes e fiquei com aquilo na cabeça, perguntei e as pessoas me indicaram”, lembra. Depois de participar do curso de capacitação, ela passou a integrar o grupo e é uma das 30 artesãs.
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A presidente da Aefao, Maria do Rosário Silva Campos, de 52, lembrou que o trabalho é feito desde 1984. No entanto, em 2012, o grupo estava prestes a entregar a camisa. Apenas seis mulheres atuavam, havia muita dificuldade para conseguir os materiais e vender o que era produzido. A parceria com a mineradora Anglo American foi fundamental para que elas mantivessem o projeto vivo. “O projeto completa a renda das mulheres e funciona como terapia. A tapeçaria também é o artesanato mais procurado na região”, completa. Os tapetes são de ponto arraiolo, que se assemelha ao ponto cruz.
De origem portuguesa, a técnica ganhou um jeito conceicionense de ser produzida. Os tapetes do Mato Dentro são muito conhecidos na região. As peças têm riqueza de detalhes e de cores, que espelham a marca do barroco na cidade. A arte barroca – especialmente imagens sacras e florais –, festas folclóricas e aspectos da fauna flora inspiram as mulheres.
VOCAÇÃO LOCAL A gerente de Desenvolvimento Social da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil, Viviane Menini, informou que o objetivo do projeto é fomentar o desenvolvimento socioeconômico das comunidades que recebem a mineradora. “Procuramos mapear oportunidades de desenvolvimento em projetos sociais alinhados com o direcionamento do investimento social da empresa e respeitando a vocação local”, diz. O propósito é fazer o resgate cultural e contribuir para a manutenção da tradição das cidades. Viviane destaca que, para que o projeto fosse para frente, foi necessário uma parceria entre o poder público, a empresa e a sociedade civil, por meio da associação.
A empresa contribui no processo de resgate da identidade, remodelação da marca, produção de material de comunicação e no treinamento para que as mulheres conseguissem vender os seus produtos. Para isso, foram investidos R$ 100 mil. “Um dos problemas era como expor fora de Conceição do Mato Dentro e como vender”, ressalta.
A próxima etapa prevê que as mulheres possam se capacitar para buscar recursos e manter a entidade. Para isso, elas participaram do Programa Germinar, cujo objetivo é a capacitação do terceiro setor. “O objetivo é que elas saibam estruturar projetos e o passo a passo para captar recursos.” A associação participou do processo de formação com outras 130 entidades. Em dois anos, houve incremento de 76% nas vendas. Algumas mulheres aumentaram em quase 200% a renda delas.