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Estado de Minas PRAZER EM AJUDAR

Haitianos recebem apoio de centro que acolhe imigrantes na Grande BH

Sem fins lucrativos, o Centro Zanmi dá suporte a imigrantes que chegam à Grande BH, especialmente haitianos, que tentam reconstruir a vida depois do terremoto de 2010


30/10/2015 06:00 - atualizado 30/10/2015 08:25

O coordenador da área de línguas do Zanmi, Lucas Hill, e Obin Obernard: aulas de português para facilitar a convivência no país
O coordenador da área de línguas do Zanmi, Lucas Hill, e Obin Obernard: aulas de português para facilitar a convivência no país (foto: Cristina Horta/EM/DA Press)

Obin Obernard, de 44 anos, conta o tempo que o separa da mulher e dos cinco filhos. São 20 meses longe de casa e do aconchego dos seus. Para amenizar a saudade, um telefonema e, eventualmente, contato pelas redes sociais. No momento, desempregado, Obin não sabe se retorna ao seu país para reencontrá-los ou se permanece por mais um tempo em Minas Gerais até conseguir um trabalho que lhe dê renda suficiente para ajudar no sustento da família, que ficou em Gonaives, a quarta maior cidade do Haiti.


A exemplo do haitiano Obin, outros 10 mil imigrantes daquele país desembarcaram em Minas com o sonho de reconstruir a vida revirada pelo terremoto de 2010. Mudar de país e viver em outra cultura não é uma tarefa muito fácil, mas associações e voluntários criaram uma rede de acolhimento para tornar a vida mais suave. É o caso da Centro Zanmi, uma associação sem fins lucrativos, localizada no Centro de Belo Horizonte, que dá suporte aos imigrantes e refugiados que chegam à capital e região metropolitana. A palavra zanmi significa amigo na língua crioula haitiana e é o que os voluntários procuram ser de quem chega sem contatos e referências. “Tem surgido, cada vez mais, movimento de acolhimento aos haitianos”, afirmou a coordenadora do projeto de trabalho da entidade, Aline Magalhães,

Obin encontrou apoio no Centro Zanmi, onde aprendeu português, o que lhe permitiu conseguir trabalho como ajudante. “Nada é fácil aqui no Brasil. Tenho muitas dificuldades”, disse. Ele esperava que, um ano depois de ter aportado no Brasil, pudesse voltar para reencontrar a família. Com o agravamento da crise econômica, os planos não puderam ser cumpridos: Obin perdeu o emprego e o pouco que recebe do seguro-desemprego é para suas despesas, como aluguel e alimentação. “Não sobra nada para eu mandar para eles”, queixa-se.

Durante todo o dia, o Zanmi recebe imigrantes que buscam apoio para se inserir no mercado. A coordenadora do projeto de trabalho, Aline Magalhães, informou que são realizadas palestras para orientá-los e ajudá-los na busca de vaga. A outra ponte da ação é desenvolvido junto às empresas, com esclarecimentos de como pode ser o processo de contratação. “Os haitianos estão em situação legal. Todos têm CPF e carteira de trabalho. Então, para contratá-los, as exigências são as mesmas relativas aos brasileiros”, diz Aline. O Centro orienta os imigrantes no processo para solicitar a documentação. Também os ajuda a preparar os currículos. Para que os haitianos possam ser acolhidos nas comunidades, a entidade realiza palestras nas escolas para falar quem é o imigrante e como acolhê-lo. O centro conta com a ajuda de 40 voluntários.

CAPACITAÇÃO Obin deverá participar de um curso para atuar como cabista do sistema de telecomunicações. Como ele, muitos buscam qualificação para aumentar a empregabilidade. Vinte deles fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) há uma semana. “São pessoas muito dispostas a trabalhar com todos os direitos exigidos para uma contratação”, afirma o assessor de comunicação do Centro Zanmi, Ricardo da Silva.

O desejo de colaborar com os haitianos mobilizou a empresária Eliza Martins. No Dia das Crianças, ela levou um pouco de alegria para meninos e meninas durante evento promovido por um grupo de voluntários no parque Terra do Saber, em Esmeraldas, na Grande BH. Entre as 150 crianças que participaram da comemoração, havia dezenas de pequenos haitianos, que receberam presentes e carinho dos organizadores, que promoveram brincadeiras. Os brinquedos foram arrecadados no instituto de beleza que fica localizado na Savassi e leva o nome de Eliza. Com o slogan, Desperte o sorriso de uma criança, a campanha arrecadou 200 brinquedos. A empresária foi movida pelo sentimento de solidariedade. “Aprendi e cresci muito com essa nova experiência. Se cada um fizesse um pouco, o mundo seria muito mais feliz”.

Os estrangeiros deverão ganhar um centro de acolhimento em Belo Horizonte. Também deverá ser criado um posto de atendimento no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins. “A população de Belo Horizonte e região metropolitana, as organizações não-governamentais e as igrejas têm se mobilizado para dar apoio aos imigrantes”, afirma João Motta, responsável pela área de atendimento aos refugiados e imigrantes da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Cidadania e Participação Social. Os três principais problemas que os imigrantes enfrentam quando chegam ao Brasil envolvem o aprendizado do português, a dificuldade para encontrar moradia e emprego.

O coordenador da área de línguas do Centro Zanmi, Lucas Hill, explica que as aulas de português são preparadas para um grupo muito heterogêneo em termos de formação e capacitação, com pessoas com diploma de nível superior e outras com menos tempo de estudo. Entre os imigrantes, há advogados, pedagogos, engenheiros, mas que não conseguem fazer a validação dos diplomas, por terem perdido toda a documentação no terremoto e também porque o processo é oneroso. A entidade aceita voluntários para dar aula de português. Ele destaca que é preciso ter sensibilidade para lidar com os imigrantes e entender um pouco sobre o processo de ensinar um idioma. Está sendo construída uma parceria com cursos de letras, para a produção de materiais e para a formação de professores.

Equipe do centro que adotou a palavra amigo na língua crioula como nome: apoio a refugiados
Equipe do centro que adotou a palavra amigo na língua crioula como nome: apoio a refugiados (foto: Cristina Horta/EM/DA Press)
 
Perfil


A Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), em parceria com o Comitê de Apoio aos Refugiados e Imigrantes da Região Metropolitana de Belo Horizonte, desenvolve pesquisa para traçar o perfil dos imigrantes. O professor de pós-graduação em geografia da PUC Minas Duval Fernandes adianta alguns dados. Segundo ele, a maior parte dos haitianos veio para o Brasil com visto concedido pela Embaixada Brasileira, muitos procuram trabalho, mas não encontram dentro da sua qualificação. Têm formação superior. A maioria está na faixa etária entre os 20 e 40 anos, cerca de 70% deles são homens.


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