Nas áreas de conservação ambiental mineiras que arderam em chamas nos últimos dias da estação seca, as primeiras chuvas do período trouxeram esperança tingida de verde e a expectativa de que a fauna, assim como a flora, possam renascer em meio às cinzas. Mas a recuperação aparentemente rápida representada pelos novos brotos está longe de retratar uma realidade ambiental. A revitalização de um ecossistema destruído pelo fogo pode demorar anos, de acordo com especialistas, e nem assim representar volta ao estado original. Um alerta para a necessidade de conservação em um estado que, de janeiro a outubro, registrou 8.849 focos de fogo. Nas unidades de conservação e entorno, foram debelados 755 incêndios.
O ano começou com os focos de calor batendo as médias registradas nos últimos cinco anos (veja quadro). A partir de fevereiro os registros recuaram, permanecendo abaixo da média – embora próximos dela – até setembro. No mês passado, porém, o número de focos disparou, ficando praticamente 40% acima da média. O único alento trazido pela distribuição das queimadas neste ano é que grande parte delas ocorreu em unidades de conservação ambiental, que, por serem protegidas, apresentam perspectiva melhor de revitalização natural.
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O professor João Renato Stehmann, do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), reforça o alerta, destacando as alterações no ambiente, como o empobrecimento da diversidade natural. “A recuperação nunca é igual e a tendência é de perda de espécies. Algumas paisagens nunca voltam ao local queimado”, afirma. Entre os pontos mais afetados pelas chamas ele cita as serras do Curral, em Belo Horizonte, e da Moeda, na região metropolitana.
De acordo com Stehmann, algumas populações de plantas, como as canelas-de-ema, endêmicas do Rola-Moça, têm sido drasticamente reduzidas e, em alguns locais, já nem existem. “Pode demorar anos e nunca se reconstituir da mesma forma. Em alguns casos, é preciso intervenção com reintrodução da espécie, uma forma de enriquecimento do solo, mas o custo é alto e nem sempre há sucesso, porque as plantas têm especificidades”, diz.
EMERGÊNCIA O mês de outubro teve o maior número de focos de incêndio no estado (3.680), de acordo com boletim da Força-Tarefa Previncêndio, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Ao longo de todo o ano, até o dia 30 do mês passado, foram registrados 8.849 focos. As unidades de conservação foram atingidas por 755 incêndios, 506 dentro dessas áreas e o restante no entorno.
No mês passado, o governador Fernando Pimentel publicou decreto de emergência e anunciou a liberação de R$ 8 milhões para combater focos no estado. O objetivo era apressar a compra de maquinário e insumos, o aluguel de aviões e outras ações emergenciais, como locação de caminhões-pipa, aquisição de equipamentos de proteção individual (EPIs) para os funcionários das unidades de conservação e outros instrumentos de combate às chamas. Com a chegada das primeiras chuvas, houve nos últimos dias queda no número de ocorrências de incêndio em todo o estado.