Mariana – O cenário era devastador, como se um tsunami tivesse varrido o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais. Ao redor, agonia, incerteza e dor, muita dor. Mais do que isso, medo. Moradores, parentes das pessoas que trabalhavam na área em que se rompeu a Barragem Fundão, da mineradora Samarco, permaneciam em estado de choque com a tragédia que provocou pelo menos uma morte.
“Perdi tudo, mas, graças a Deus, minha esposa e minha filha estão bem, eu estou bem”, desabafava, emocionado, Fernando Santos, de 33 anos. Ele é uma das pessoas que conseguiram escapar. “Eu estava trabalhando, fui avisado e saí correndo. Foram horas de angústia, quase seis. Ficamos ilhados”. Como outras pessoas, ele buscou os pontos mais altos do lugar. “De lá, felizmente consegui falar com minha mulher pelo telefone. Ela estava em outra parte alta, com minha filha. Elas estavam assustadas, mas bem”.
Outro morador, Cleiton Jacques, de 24 anos, também buscou refúgio num dos locais em que o terreno era elevado, depois de ser alertado por vizinhos. “Eu e um colega conseguimos abrir uma trilha no meio do mato e subimos. Acho que muita gente escapou desse mesmo jeito. Ao chegar à parte alta, havia por lá cerca de 200 pessoas”. Mesmo com medo, elas ficaram à espera de socorro. Bento Rodrigues tem cerca de 620 habitantes. Sidney Paula, de 36 anos, vivia a incerteza sobre o destino dos pais, até que Cleiton o tranquilizou, contando que não haviam se ferido. “Passei oito horas de agonia, sem notícias deles”, relatou.
Em Mariana, havia dezenas de voluntários, um corre-corre intenso, movimentação de ambulâncias e muita desinformação. Ronaldo Antunes Xavier, de 28 anos, beirava o desespero, porque não tinha localizado o irmão, Marcos Roberto Xavier. “Um dos sobreviventes contou que meu irmão estava trabalhando num dos dois tratores que foram arrastados. Até agora, ninguém falou nada para a gente. Fui até a portaria da Samarco e nos direcionaram para cá (a Arena). Fomos ao hospital e nos mandaram de volta. A esposa dele está em estado de choque. Tem dois filhos. Está desesperada”.
Fabiana Conceição Sabreira, de 21 anos, estava no Hospital Monsenhor Horta com a filha, Maria Fernanda, de 2 anos, para ser atendida. Ela havia inalado muito gás, cuja origem a mãe não soube explicar. O desespero maior, descreveu, foi chegar até lá. “Peguei a estrada e estava totalmente interditada por causa da lama. De lá vi minha casa inteiramente coberta. Liguei para meu pai, ele me buscou e fomos por outro caminho”.
Além do Hospital Monsenhor Horta, preparado para receber feridos de maior gravidade, as policlínicas de Mariana e do distrito de Santa Rita Durão estavam atendendo as vítimas. Parte foi encaminhada para o HPS, em Belo Horizonte. Até o fim da noite, o movimento era intenso. “Estou muito desnorteado, foi uma catástrofe. Todos estão desnorteados. Estamos pedindo a Deus para que as pessoas tenham conseguido sair dos locais mais atingidos a tempo”, disse o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, de 34 anos.
Havia apoio montado não só no principal ginásio da cidade, a Arena Mariana, como pousadas e hotéis se mobilizavam para acomodar os desabrigados. A Prefeitura de Ouro Preto havia enviado 10 ambulâncias. A Santa Casa local e a Unidade de Pronto Atendimento (Upa) estavam mobilizados para o atendimento imediato.
Inicialmente, duas equipes da Defesa Civil de Minas Gerais com suporte de quatro aeronaves da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte cuidariam do resgate de pessoas ilhadas. A dificuldade de acesso, diante do mar de lama, era um desafio extra aos bombeiros.