Mortos e feridos, vegetação de mata atlântica destruída, córregos entupidos de lama, patrimônio histórico soterrado, gado sem vida à beira de estradas e peixes boiando inertes na lama. São muitas as consequências do rompimento das barragens do Fundão e Santarém, da mineradora Samarco, na localidade de Bento Rodrigues, em Mariana (Região Central). Passados quatro dias, a população ainda se pergunta perplexa: quem vai pagar por isso? “Queremos saber o que houve e por que, qual a dimensão das responsabilidades. Trabalhamos com força total para dar as respostas e garantir o ressarcimento à sociedade”, diz o coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam), Carlos Eduardo Ferreira Pinto. Ele comanda o inquérito aberto na sexta-feira para apurar as causas e responsabilidades do desastre ambiental, considerado um dos maiores do país.
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Buscas por vítimas de tragédia em Mariana entram no quarto diaCorpo encontrado em Mariana é de caminhoneiro que trabalhava em mineradoraÁgua em Governador Valadares só dura mais um diaEspecialistas alertam sobre perigos à saúde de quem teve contato com a lama em MarianaVítimas da tragédia em Mariana levam vida improvisada em hotéisOAB/MG vai prestar atendimento jurídico gratuito à população na próxima quinta-feiraPara o advogado Mário de Lacerda Werneck Neto, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/Seção Minas Gerais), a questão é muito ampla. “São danos causados ao meio ambiente e aos bens culturais, sem falar, principalmente, que houve óbitos. De imediato, podemos dizer que a empresa terá que pagar pelos estragos ambientais”.
Werneck explica que a mineração é atividade de risco e, portanto, a responsabilidade civil fica clara nesse aspecto. “Quando recebe o licenciamento para o empreendimento, conferido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a empresa assume o risco presumido, ou seja, se algo der errado, ela é a culpada”, afirma o conselheiro.
“Caberá, agora, ao Ministério Público fazer o levantamento, com valores a serem pagos, de todos os problemas ocorridos no trecho atingido”, acrescenta Werneck. “O trabalho não deverá demorar muito, pois o Caoma tem os melhores profissionais. Pode ser que seja aplicada uma multa, mas há possibilidade de se firmar um termo de ajustamento de conduta (TAC) entre as partes.
CRIMINAL O inquérito comandado pelo promotor de Justiça Carlos Eduardo Ferreira Pinto terá outros desdobramentos. “Como houve mortes, as causas serão apuradas no inquérito criminal que também estará a cargo do MPMG, juntando-se aí as investigações nas áreas civil e penal”, explica Werneck. “No caso específico dos bens culturais, não se pode mensurar valores, pois são de caráter irreversível. A história da comunidade não tem preço e tudo vai depender da apuração do MP”. O inquérito está a cargo também dos promotores de Justiça Antônio Carlos de Oliveira, da comarca de Mariana; Domingos Ventura de Miranda Júnior, de Ouro Preto; do coordenador regional das Promotorias de Justiça do Meio Ambiente das Bacias Hidrográficas dos Rios das Velhas e Paraopeba, Mauro da Fonseca Ellovitch; e da promotora de Belo Horizonte, Andréa Soares.
ESTADO Mas nem só a Samarco estará no alvo da Justiça. “Durante o inquérito, serão apuradas todas as responsabilidades, inclusive se houve omissão do Estado. “É preciso investigar toda a documentação, se houve omissão, dolo. Com o laudo periciail, serão verificados os tipos penais que ocorreram”, afirma.
Caminhos da investigação
Na Justiça
1) Inquérito aberto pelo Ministério Público de Minas Gerais apura causas do desastre ambiental em Mariana e as responsabilidades
2) Polícia Civil também abriu inquérito para apurar os danos ambientais, que, ao ser concluído, será encaminhado ao MPMG
3) Ocorrências policiais, como a morte de peixe, no Parque Estadual do Rio Doce, no Vale do Aço, também serão anexadas ao processo
4) No momento, o grupo de cinco promotores que trabalham no inquérito coleta informações para montar a estratégia jurídica
Enquanto isso...
...OAB ORIENTA DESABRIGADOS
A Ordem dos Advogados do Brasil/MG criou um grupo de apoio às vítimas do rompimento das barragens Fundão e Santarém da mineradora Samarco em Bento Rodrigues, em Mariana. Advogados voluntários prestaram, ontem, orientação gratuita aos desabrigados, familiares de desaparecidos e feridos na cidade da Região Central. De acordo com o presidente da OAB mineira, Luís Cláudio Chaves, a instituição também vai acompanhar as investigações sobre as causas do desastre..