Há 14 anos, Jair Gomes Santos, de 68 anos, passou uma hora soterrado depois do desabamento ocorrido na mineradora Rio Verde, no distrito de São Sebastião das Águas Claras, conhecido como Macacos, a 25 quilômetros de Belo Horizonte. Lama e dejetos foram arrastados por seis quilômetros. No acidente, morreram cinco trabalhadores da empresa. Duas novas barragens foram construídas desde 2001. Atualmente, elas deixam moradores apreensivos, sobretudo depois da tragédia em Mariana.
“Voltava para casa, em Macacos, no momento em que veio tudo abaixo. Trabalhava como mestre de obras no condomínio Morro do Chapéu. Desci no posto da rodovia e peguei carona com um colega. Estávamos no carro, quando, de repente, ouvimos um barulho muito forte, parecia explosão.
Natural de Salvador, Jaime se mudou para Macacos há mais de 30 anos. Ele conhecia um dos mortos, Romero Faustino Leonídio, de 47. “Romero veio de Ibirité, era muito conhecido. Um negão gente boa, muito trabalhador e educado. O triste é que ele ia sair de férias na semana seguinte. Vi ele e um colega dentro do trator desgovernado, descendo morro abaixo.
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O rompimento da barragem de rejeitos da Rio Verde ocorreu em 22 de junho de 2001, atingindo cerca de 43 hectares de mata atlântica e afetando a flora e a fauna da microbacia. A onda de lama assoreou os córregos Taquaras e Fechos. O desastre gerou ações cíveis e penais na Justiça mineira. Diretores da Rio Verde foram condenados a penas de reclusão – revertidas em prestação de serviço – e pagamento de multa. A empresa foi condenada a construir um estacionamento para 150 veículos no distrito de Macacos e a pagar multa.
A Rio Verde assinou quatro termos de ajustamento de conduta (TAC) com o Ministério Público Federal e o Estadual.
“Não se pode falar que a empresa ficou impune”, alegou a promotora de Justiça Andressa de Oliveira, uma das responsáveis pelo caso. Em 2006, a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) comprou a Rio Verde e, no ano seguinte, a MBR foi comprada pela Vale.
Família destroçada em Itabirito
Há um ano, a aposentada Maria das Graças Santos Batista, de 65 anos, recebeu a notícia de que o corpo de seu filho, o operário Adilson Aparecido Batista, havia sido encontrado 40 dias depois do rompimento da barreira de rejeitos da Mineração Herculano, em Itabirito, a 55 quilômetros de Belo Horizonte.
“Foi uma tristeza muito grande perder um filho daquela forma. As buscas tinham até sido interrompidas pelos Bombeiros. Já não tínhamos certeza do que aconteceu, nem de que ele seria encontrado. Até hoje, não entendo o que levou meu filho à morte”, lamenta Maria das Graças. A família recebeu a visita de psicólogos nos sete dias seguintes à localização do corpo, mas esse acompanhamento especial não prosseguiu. A família se queixa da falta de atenção da Herculano.
O filho mais velho de Adilson, Fernando Rodrigues Batista, de 24, trabalha como motorista para mineradoras, a mesma atividade de seu pai. “Sei que é perigoso. Mas é a opção que tenho para me sustentar.
A morte de Adilson separou a família, pois seus filhos, de 13 e 3, moram em casas diferentes. Além de Adilson, o topógrafo Reinaldo da Costa Melo e o operário Cristiano Fernandes Silva morreram no desabamento, ocorrido em 10 de setembro.
Os familiares entraram na Justiça para exigir indenização, mas não sabem em que etapa está o processo. “Procuramos a empresa para descobrir o que aconteceu e quem era responsável pelo acidente, mas eles não deram explicações. Pagaram o acerto trabalhista do meu pai, cerca de R$ 4 mil, e não voltaram”, diz Fernando Batista. A mãe de Adilson faz acompanhamento psicológico por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
De janeiro a junho do ano passado, a empresa foi autuada 34 vezes por irregularidades, inclusive por não apresentar um plano de gerenciamento de risco. Semanas depois do acidente, a Herculano foi interditada e teve suas atividades suspensas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente. As causas do acidente ainda são investigadas. De acordo com ambientalistas, serão necessários pelo menos 10 anos para que os danos ambientais sejam reparados. A reportagem não conseguiu localizar os representantes da empresa.
Reforma gera apreensão
Moradores de Macacos temem novos problemas em represas construídas no local.
O comerciante cobra fiscalização mais eficiente do poder público. “Há um ano, fizeram vistoria e falaram que a mina que desabou em Mariana estava em perfeitas condições. Ou seja, não temos garantia nenhuma. Quando houve o acidente em Macacos, ficamos ilhados por muito tempo, foi bem complicado”, lembra Gerson.
Dono de um bar em Macacos, Sérgio Bonzi, de 57, também guarda na memória as cenas da tragédia em 2001. “Por volta das 16h30, aquela montanha de dejetos desceu de repente. Não teve chuva naquele dia ou nos dias anteriores. O problema foi o excesso de dejetos e de lama. As pessoas ficam com receio, pois são desastres imprevisíveis”, relembra Sérgio.
Por meio de nota, a Vale informa que trabalha “em todos os projetos de barragem com técnicas de engenharia avançadas, seguindo rigorosos controles, realizando monitoramento sistemático e auditorias externas anuais para garantir as condições de segurança. Neste momento, todas as nossas estruturas estão funcionando em absoluta normalidade, seguindo a legislação vigente e com todos os aspectos de segurança garantidos”.
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