Governador Valadares, no Leste de Minas Gerais, só tem água para abastecer sua população por mais 24 horas. A lama que vazou no rompimento das barragens da mineradora Samarco em Mariana, na Região Central de Minas, na quinta-feira, e chegou ao Rio Doce, alcançou ontem o município de 278 mil habitantes. Com isso, o Serviço Autônomo de Abastecimento de Água e Esgoto (SAAE) interrompeu a captação no rio e pediu aos moradores para economizarem água. Em nota, a administração municipal informou que não há prazo para a retomada da captação e, por isso, todo desperdício deve ser evitado.
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A interrupção da captação de água em Governador Valadares é mais um drama resultante do rompimento das barragens do Fundão e Santarém, da mineradora Samarco. Horas depois da tragédia, a avalanche de lama atingiu os rios Gualaxo e Carmo e inundou a cidade de Barra Longa.
EM PLENA SECA A poluição do Rio Doce, causada pela tragédia em Mariana, chega em um momento que Governador Valadares enfrenta uma das piores secas de sua história. Em agosto, o Estado de Minas publicou reportagem mostrando que o nível do rio era o mais baixo nos últimos 10 anos, conforme atestavam monitoramentos feitos nas estações de Ipatinga e Governador Valadares, em Minas, e Colatina, no Espírito Santo.
Além disso, em julho, a série de reportagens Amarga agonia mostrou que a seca na Bacia do Rio Doce levou o manancial a não chegar mais ao Oceano Atlântico por seu caminho tradicional. A foz original virou uma lagoa represada por uma faixa de areia de dois metros de altura. A reportagem destacou que o problema na foz é resultado da degradação que se espalha pelos 850 quilômetros do leito do rio e pela maior parte da bacia de 86 mil quilômetros quadrados.
Turbidez acima do limite legal
As primeiras análises feitas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) na bacia hidrográfica do Rio Doce, próximo a Bento Rodrigues, apontam que a turbidez e a condutividade elétrica estão acima do limite legal, pela presença de sólido (barro) na água. O Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) informou ontem que ainda serão analisadas amostras de sedimentos nos pontos de amostras de água para varredura dos metais e quantificação dos metais de interesse (metais pesados).