Sem condições de dar continuidade a suas operações em Mariana, o futuro incerto da Samarco é a nova preocupação não só da própria companhia e investidores, mas também para os trabalhadores e a população do município. Com o embargo das atividades da mineradora, que o governo estadual anunciou ontem à tarde, a Samarco amanheceu hoje com 85% de seus empregados em licença remunerada. Nota encaminhada pela empresa ao Estado de Minas confirma a dispensa temporária da expressiva parcela do quadro de pessoal da unidade mineira de Germano e da planta industrial de Ubu, no Espírito Santo, mas não informou o número total.
O embargo das atividades da Samarco na mina de Germano, onde houve o rompimento das barragens do Fundão e de Santarém, na quinta-feira, foi determinado em caráter preventivo, segundo o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Sávio Souza Cruz. “A empresa só poderá retomar as atividades após a apuração e a adoção de medidas de reparo dos danos provocados”, declarou.
No fim de semana, a Samarco havia informado aos investidores que vai suspender as operações na unidade de Ubu, no município capixaba de Anchieta “ao final dos estoques de minério, bem como as operações de embarque”. As atividades da companhia são estruturadas com a unidade mineira de exploração e beneficiamento de minério de ferro, transportado por minerodutos de 400 quilômetros de extensão à planta do Espírito Santo, onde a matéria-prima é transformada em pelotas e embarcada ao exterior em terminal portuário próprio.
SEIS MESES Fontes do setor minero-metalúrgico ouvidas pelo EM, que preferem o anonimato, acreditam que a mineradora precisará de mais de seis meses a um ano para definir como poderá voltar à operação e só terá como retomá-la completamente dentro de três anos, depois de enfrentar um novo processo de licenciamento que tende a ser mais complicado. A preocupação adicional ao atendimento das vítimas da tragédia tanto por parte do sindicato local dos trabalhadores quanto dos empresários do município é com a retomada das operações após esclarecidas as causas do acidente, devido à importância da empresa para a geração de empregos e renda em Mariana e região.
“Está claro que houve erro e falha humana e isso tem de ser reparado, assim como temos de pensar nas vidas, neste primeiro momento. Num segundo plano, contudo, é preciso buscar uma retomada da empresa”, afirmou o presidente do Sindicato Metabase. Entre empregos diretos e indiretos, a mineradora responde pela manutenção de cerca de 10 mil pessoas em Mariana, que tem 55 mil habitantes, pagando salário médio de R$ 4,2 mil. A Samarco ainda emprega profissionais que moram em Ouro Preto, Santa Bárbara, Catas Altas e Barão de Cocais.
RAIO-X
Perfil da mineradora em 2014
- 25,129 milhões de toneladas de ferro exportadas
- Exploração mineral em Mariana e usinas em Ubu (ES), três minerodutos ligando as duas unidades com 400 quilômetros de extensão cada um, escritórios comerciais no Brasil e no exterior, uma usina hidrelétrica em Muniz Freire (ES)
- 3 mil empregados diretos e 3,5 mil contratados nas empresas prestadoras de serviços
- R$ 7,601 bilhões de faturamento bruto
- R$ 2,805 bilhões de lucro líquido