Mariana – O pequeno distrito de Camargos, comunidade mais próxima de Bento Rodrigues – arrasada pelo rompimento de duas barragens da Samarco, mineradora controlada pela Vale e BHP Billiton – se tornou uma espécie de cidade-fantasma. Um dos primeiros braços da lama de rejeitos que se arrasta pelo estado atingiu a parte baixa do distrito e destruiu três fazendas, na última quinta-feira. Com receio de que um novo rompimento possa ocorrer, desta vez com uma proporção maior, o da Barragem do Germano, no complexo minerário onde estouraram as outras duas, moradores abandonaram suas casas e deixaram a vila fundada no início do século 18. Mas há quem resista em fazer isso.
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“Eu não tenho ideia do que a Samarco pode fazer pela gente. Minha filha faz faculdade em Belo Horizonte, as contas vão chegar para pagar. Eu vou trabalhar aonde? Só se eu sentar na praça e pedir dinheiro”, afirmou Graciete a um dos funcionários da mineradora, argumentando que depende da fazenda para sobreviver.
PAVOR A comunidade de Camargos tem cerca de 50 casas e apenas quatro continuam habitadas. Eladir dos Reis deixou o imóvel onde vivia com o marido e duas filhas, uma de 12 e outra de 10 anos, na quinta-feira após a avalanche de lama. “Não fico lá de jeito nenhum. E se a outra barragem romper?”, questiona.
O prefeito de Mariana, Duarte Júnior, disse, em entrevista coletiva na tarde de ontem, que também teme pela terceira barragem. Ele argumentou que a prefeitura não tem funcionários qualificados para fiscalizar o local e precisa confiar no argumento da mineradora, de que a Barragem do Germano está estável.
“Quando eu cheguei ao alto do morro, vi a lama passando em tudo. No galinheiro, no quartinho de arreio e no barracão onde meu sogro fazia artesanato”, detalha Graciete. O marido dela, Geraldo, é motorista de van, contratado para levar crianças na escola de Bento Rodrigues. A sorte foi que ele atrasou e, quando saía, escutou o aviso de um rapaz de motocicleta que a barragem havia rompido.
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