Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e São José do Goiabal – O rio que sustenta uma das regiões mais importantes de Minas Gerais é desde sábado uma corredeira de água barrenta, margeada por um emaranhado de troncos de árvores, animais em estado de putrefação, garrafas PET, peças de roupas e toneladas de peixes podres disputados por urubus. Não bastassem a poluição, o esgoto sem tratamento e o desmatamento da mata ciliar que o minam a cada ano, o Rio Doce sofre agora com o lamaçal que escorreu das barragens de rejeito da Samarco, que se romperam na última sexta-feira em Mariana. Os primeiros atingidos foram os rios Gualaxo e Carmo – este último, ao se unir ao Piranga forma o Doce –, por volta das 6h da manhã de sábado, menos de 14 horas depois do rompimento do primeiro reservatório, a cerca de 125 quilômetros de distância.
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SEM ATIVIDADE A situação continua grave à medida que a lama de rejeitos avança rumo à foz.
Em poucos minutos à beira do rio, é de impressionar a quantidade de peixes que descem boiando. “Tem até peixe de uns 20 quilos descendo”, afirma o operador de máquina Gerimal da Silva Flaver, que trabalha em um areal em São José do Goiabal, no Vale do Aço. Ele está sem serviço, porque a dragagem teve de ser interrompida na sexta-feira, por causa da sujeira nos bancos de areia. "Não sei quando volto a trabalhar", comenta. Perto dali, uma balsa privada que liga o município à vizinha São Pedro dos Ferros voltou a funcionar ontem, depois de ficar dois dias parada por causa do nível do rio, que subiu 3,30 metros no local. Ontem, segundo o piloto da balsa, o rio ainda estava 50 centímetros acima do normal.
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