Mariana – Quando foi eleito vereador pela primeira vez, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, se tornou o mais novo legislador do país, com 18 anos. Hoje, com 35, o chefe do Executivo enfrenta o maior desafio da cidade poucos meses após assumir a cadeira. Duarte está no posto desde 15 de junho, pois era vice de Celso Cotta, que foi cassado. Ontem, Du, como é conhecido, tentou convencer a presidente Dilma Rousseff a alterar o plano de voo e descer em Mariana – e não apenas fazer um sobrevoo na área atingida pelo rompimento das barragens da Samarco (mineradora controlada pela Vale e BHP Billinton) –, mas não teve sucesso. “Seria importante que a presidente descesse para conversar com as vítimas. Para que as pessoas se sentissem confortáveis”, afirma o prefeito. Porém, ele completa: “Não a critico por isso, e nem pretendo tirar proveito disso”.
O estilo morde e assopra é adotado com frequência por Du. Após ser vereador, o prefeito foi candidato a vice-prefeito por um grupo rival do qual foi eleito no último pleito. Em Mariana, eleitores e adversários políticos destacam o estilo populista do chefe do Executivo, articulado nas entrevistas e com algumas medidas inusitadas, como permitir que os funcionários fossem trabalhar de bermuda, por causa do forte calor na cidade. Amenidades à parte, a política da primeira cidade de Minas é conturbada e chegou, na gestão anterior, a ser comandada por seis prefeitos diferentes que se revezavam em um rosário de denúncias e condenações.
Du, que está sempre vestindo um colete azul da Defesa Civil nos últimos dias, presenciou a tragédia causada pela mineradora Samarco, mas não é enfático ao atacar a empresa, pois sabe que a prefeitura depende da mineração, já que mais de 80% da arrecadação vem da extração mineral. “Quando soube da notícia do rompimento, fui para Bento Rodrigues. Cheguei lá às 17h20 e vi as casas caindo. Pensei que tinha morrido quase todo mundo”, recorda o prefeito.
Em relação à Samarco e à Vale, o prefeito adota o mesmo estilo morde e assopra. Procura cobrar as empresas e apresentar os prejuízos que a cidade teve – estimados inicialmente em R$ 100 milhões –, mas destaca o papel preponderante das mineradoras na economia do município.
“A Samarco sempre foi bem-vista pelos moradores de Mariana. Quando houve crises no setor, com muitas demissões, ela (a empresa) sempre preservou os postos de trabalho aqui”, relata o chefe do Executivo. Perguntado como será daqui para frente, ele diz não saber. “Só o tempo irá dizer como os marianenses vão se relacionar com a empresa.”
O prefeito solicitou à presidente Dilma e ao governador Fernando Pimentel que abram mão da parte que cabe à União e ao estado na arrecadação da CFEM, imposto pago pelas mineradoras. De acordo com Duarte Júnior, o município fica com 60% da CFEM hoje, arrecadada pela exploração do minério no município. Esse percentual equivale a uma quantia que gira entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões mensais. A união fica com 17%, e o estado, com 23% do imposto devido pelas mineradoras.
Com a suspensão da atividade mineradora pela Samarco, a prefeitura calcula uma perda de 30% na arrecadação. “Os governos federal e estadual precisam entender que a questão envolve chefes de família, vidas. Com essa queda de arrecadação, programas essenciais podem ser paralisados”, justificou.
Outra reivindicação do prefeito é que o governo federal realize um estudo das causas do acidente, independentemente do trabalho realizado pela Samarco. Duarte Júnior disse que iria pedir ainda que os governos federal e estadual continuem prestando assistência na busca dos desaparecidos.
TRAJETÓRIA Filho de vereador, Du herdou o colégio eleitoral do pai. É formado em direito, casado, estudioso de teologia e tem três filhos (de 4, 7 e 9 anos). O que mais toca o político é saber da morte das crianças. “Eu até arrepio quando penso nisso”, afirma. Poucos dias após o desastre, o prefeito chegou a ser internado devido a uma disritmia cardíaca.