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Durante o dia, o movimento no distrito é intenso. O ruído dos tratores e caminhões de sucção de prestadoras de serviço da Samarco ecoa pelos quarteirões ainda tomados por lama e água barrenta, enquanto tentam desimpedir a avenida principal. Fileiras de desabrigados passam se espremendo pelas trilhas íngremes batidas de gado nas colinas que beiram a lama ou dentro do próprio terreno movediço. “Minha casa ficava no meio do lote e as dos meus filhos, em volta. Estão todas debaixo do minério.
As cercas de arame das propriedades se tornaram varais para secar roupas, equipamentos eletrônicos, elétricos e até uma bíblia. No amontoado que foi arrancado das casas e misturado pelo lamaçal se encontra de tudo: camas, geladeiras, televisores, bonecas, bicicletas, roupas, cosméticos, tacos de sinuca e livros. Engradados de cerveja entupidos de barro são empilhados perto das portas dos cinco bares que funcionavam no povoado, agora arrasados, antes famosos por fritar os melhores pastéis da região.
Os lavradores José Horta, de 50, e Raimundo Gonçalves, de 48, enfrentaram as rachaduras nas casas para recuperar pelo menos suas ferramentas de trabalho. Mas, mesmo quando conseguiram vencer a lama, improvisando passarelas com pedaços de pau, a decepção foi grande. “Desenterrei a motosserra e a moto. Mas nenhuma das duas funciona mais.
MATILHAS FAMINTAS Às 19h, as máquinas da Samarco se silenciam e as vans levam para Mariana os trabalhadores e a maioria dos moradores de Paracatu de Baixo. A escuridão acentua a sensação de deserto em ruas e casas vazias. Logo os uivos de cães abandonados ecoam de todas as partes. Bandos desses animais famintos perambulam entre as ruínas sobre o lamaçal. Qualquer um que porventura trombe com a matilha é logo cercado e farejado pelos animais de rabos inquietos, sedentos por atenção.
Luzes de lamparinas e velas avistadas por entre as casas mais altas levam à dona de casa Maria de Oliveira, de 76, que vagava pela vizinhança com filhos e parentes procurando os poucos que, como ela, resistem. “Daqui, só saio morta. No dia da lama, quando me levaram para Mariana, passei a noite sem dormir, sem comer, só esperando a manhã para voltar. Comprei querosene e velas para ter luz, trouxe água e comida (doados). Agora, não saio mais”, disse.
Vídeo mostra situação de Paracatu de Baixo
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