Mariana – Um novo Bento Rodrigues, o povoado mais devastado pelo estouro das duas barragens da Samarco, será reconstruído em outro lugar na área rural de Mariana, a 110 quilômetros de Belo Horizonte. Pelo menos essa foi a decisão dos desabrigados pelo tsunami de lama numa reunião, na manhã de ontem, com a participação de representantes do poder público. O prefeito da cidade histórica, Duarte Júnior, concordou com o desejo das vítimas: “A população decidiu que não quer a reconstrução naquele local. Então, hoje está definido que Bento deixou de existir”. O Estado de Minas voltou a Bento Rodrigues pela primeira vez depois de quarta-feira, quando as autoridades aumentaram o bloqueio e proibiram a entrada no distrito por causa dos riscos de a barragem Germano ceder e para uma mudança de estratégia nas buscas por desaparecidos. A lama que desceu das barragens já está mais seca, o que facilita a locomoção. Sinal de vida no local é de apenas animais. Em meio à destruição, cachorros abandonados caminham pelos rejeitos de mineração.
As opções de onde será o novo subdistrito ainda serão estudadas pelo poder público, empresa e comunidade.
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A mineradora também vai custear as hospedagens em hotéis ou em casas alugadas até o reassentamento em definitivo. A mineradora propôs ainda mobiliar casas alugadas e quitar as contas de energia elétrica. Ontem, as duas primeiras famílias foram transferidas de hotéis para casas alugadas. Uma delas é a de Rosa Helena da Silva, três filhos e um neto, que passaram a ocupar um imóvel de três quartos mobiliados.
Rosa, no entanto, lamenta não poder voltar à antiga moradia. “Lá, as crianças podiam sair sozinhas.
Até terça-feira, outras três famílias da Pousada Conto de Minas devem ser transferidas para casas alugadas, mas a Samarco não tem prazo para transferir todas. “As crianças foram acostumadas com áreas muito grandes”, diz o prefeito, sobre a importância de transferir as famílias rapidamente. Segundo ele, em um hotel, uma criança quebrou um pé.
A transferência para as casas traz de volta um pouco da liberdade que os moradores do Bento perdem nos hotéis.
BLOQUEIO O promotor ressalta que o custeio da Samarco com as propostas listadas no documento recebido anteontem não será financiado pelos R$ 300 milhões bloqueados pela Justiça na conta da mineradora, em caráter liminar, a pedido do Ministério Público.
Essa quantia, esclarece Meneghin, trata-se de uma espécie de caução, a qual será usada para indenização por dano moral e material às famílias em caso de a Samarco não bancar o reparo patrimonial às vítimas de Mariana. “Trata-se de uma espécie de garantia. A Samarco só vai movimentar esse recurso depois de cumprir as obrigações”. .