A incapacidade do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) de fiscalizar os empreendimentos que dispõem de diques em Minas Gerais e no Brasil agrava a desconfiança na estabilidade dessas estruturas, sobretudo após o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central do estado, no último dia 5. O desastre ambiental seguido de 11 mortes, 12 desaparecidos e mais de 600 desabrigados colocou ainda em xeque as técnicas construtivas dessas estruturas por especialistas e pelo Ministério Público (MP). Os problemas do DNPM começam na falta de informações. Em Minas Gerais, estão 317 barragens de mineração de conhecimento do órgão, o que representa 48% das 662 instaladas no Brasil. Dessas, contudo, 95 sequer constam do Plano Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) do departamento, sendo que o próprio DNPM considera que 37% das estruturas não são fiscalizadas, por não constarem do plano, apresentam riscos alto e médio. A penúria da estrutura do departamento, onde faltam pessoal, equipamentos e verbas, tem sido alvo de alertas do Tribunal de Contas da União (TCU) e do sindicato das agências de regulação nacionais (Sindiagências).
De acordo com informações do DNPM, só no ano passado foram realizadas 151 vistorias pelos 220 técnicos responsáveis pela fiscalização. O órgão não informou o número de profissionais da superintendência mineira, mas em 2011, relatório do TCU apontou que a falta de mão de obra é gravíssima nas superintendências de Minas Gerais e do Pará, principalmente por serem estados que concentram a maioria das minerações do país. De acordo com o Sindiagências, a situação não melhorou nesses quatro anos, já que 450 vagas de concurso ainda não foram preenchidas e a taxa de evasão é uma das mais altas do funcionalismo, atingindo 21%, enquanto a média de migração de outros setores para a iniciativa privada é calculada em 7%.
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As condições de estabilidade da Barragem de Fundão eram tidas como garantidas pelos auditores independentes contratados pela Samarco.
A reportagem procurou o DNPM para comentar a situação, mas até o fechamento desta edição o departamento não se manifestou..