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Estado de Minas

Após abastecimento ser suspenso, água chega às regiões baixas de Governador Valadares

Apesar do alívio momentâneo, moradores estão apreensivos em relação à qualidade do líquido. População continua enfrentando fila


postado em 17/11/2015 06:00

Cerca de 2 mil pessoas fizeram fila ontem para conseguir uma garrafa de água mineral: abastecimento só nas partes mais altas da cidade(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Cerca de 2 mil pessoas fizeram fila ontem para conseguir uma garrafa de água mineral: abastecimento só nas partes mais altas da cidade (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Governador Valadares – Água para uns, fila para outros e desconfiança geral da qualidade do líquido que voltou a ser captado do Rio Doce para atender a população de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Esse é o retrato da segunda-feira que trouxe alívio para alguns e angústia para outros. Nas partes mais baixas, o abastecimento está normal, como no Centro e na Ilha dos Araújos. Nos lugares mais altos, como no Bairro Turmalina, as torneiras continuavam secas, o que obrigou as pessoas a lotarem ontem os postos de distribuição de água montados pela prefeitura. Apesar de a água já chegar em alguns lugares, as pessoas estão muito desconfiadas. As reclamações são de que o líquido está amarelado ou até esbranquiçado, com cheiro forte de cloro.

Dona de uma loja de açaí no Centro, Adriana Matias, de 44 anos, sentiu alívio ao abrir a torneira ontem e perceber que a água disponibilizada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) voltou a abastecer seu comércio. Mas ela não está convencida da qualidade do líquido. “Não vou filtrar essa água para fazer meus sucos, igual eu fazia antes do problema do Rio Doce. Ainda não tenho confiança suficiente para isso. Vou continuar com água mineral”, afirma, reclamando que o líquido está mais branco que o normal e com cheiro de cloro. Por outro lado, o alívio. “Só de poder dar uma descarga, tomar um banho e fazer a limpeza das coisas, melhora demais.”

No Garfo Clube, que fica na Ilha dos Araújos, a segunda-feira foi de manutenção. Dessa vez foi possível usar a água do SAAE para tratar as piscinas. A gerente do clube, Valéria Cerqueira, explicou que havia um rodízio, usando o líquido de uma para limpar a outra. “Por conta disso, conseguimos manter o clube funcionando. Agora, a situação vai se normalizar”, diz ela. Entretanto, o cenário que ainda persiste no Rio Doce, à beira do clube, é desolador. O tom amarronzado da lama toma conta de toda a calha, mas, mesmo assim, o SAAE garante que a água tratada tem total condição de uso, com laudos da Copasa ratificando as condições de potabilidade. No prédio do produtor rural Adivam Vunha, de 44, no Centro, uma das caixas já estava quase cheia. “Voltou ontem (domingo). Nós demos sorte porque muitos moradores viajam bastante e alguns estudantes foram embora, diminuindo o consumo e evitando o desabastecimento”, conta.

Se nas áreas mais baixas a situação vai melhorando, nos morros, a dificuldade persiste. Ontem, cerca de 2 mil pessoas aguardavam o início da distribuição de um carregamento de água mineral, na porta do Centro Espírita Nosso lar, no Bairro Turmalina, um dos 14 pontos de entrega. A aposentada Maria das Graças Soares, de 68, disse que na casa dela até chegou a entrar uma quantidade mínima de água, mas que não deu praticamento para nada. “Mesmo assim, você acha que vou beber uma água dessas? Ela veio amarelada, não tem jeito”, reclama. O torneiro mecânico Edson Bispo, de 42, ficou quatro horas e meia na fila até conseguir um fardo com seis garrafas de 1,5 litro.

Na residência da dona de casa Rosineia Martins, de 24, as torneiras continuam secas. Por volta das 12h30, ela estava impaciente na fila da água mineral. “Estou aqui desde as 8h30. Somos sete pessoas onde moro e está todo mundo dizendo que a água não presta”, protesta. A aposentada Neuza Batista, de 61, promete continuar pegando água mineral no Turmalina todos os dias enquanto ainda tiver disponibilidade. “É a garantia que poderemos beber sem passar mal ou ficar doente”, diz ela.

POTÁVEL Segundo a Prefeitura de Governador Valadares, laudo emitido pela Copasa garante que a água é potável, de acordo com os padrões nacionais exigidos. A prefeitura também informa que não foram identificados metais pesados nas amostras colhidas. “Não há como distribuir água para toda a população sem a garantia de que a água tem condições ideais para consumo humano. O abastecimento só foi reestabelecido quando tivemos a garantia de que era possível tratar a água. Portanto, a água que começou a chegar às torneiras é potável e de qualidade, sim”, diz o texto.

A prefeitura também informou que naturalmente os primeiros atendidos serão moradores de partes mais baixas, para, em seguida, os bairros altos terem o atendimento completo, com previsão de quatro dias para regularização. Sobre a água mais amarelada, o SAAE informou que é normal que isso ocorra por conta de resíduos nas caixas vazias e também na rede de tubulação parada.

BARRAGENS Segundo a prefeitura, a situação das barragens da Samarco em Mariana, “ainda é instável e outros prejuízos podem ser causados ao Rio Doce”. Em nota, informa ainda que junto com o Ministério Público “mantém o contato permanente com a empresa responsável pra garantir que a obra se efetive o mais rápido possível” e que o Rio Suaçuí Grande passará a ser segundo manancial responsável por abastecer a cidade.


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