Diante de tanta novidade, a pequena Vanessa Vitória Arcanjo não sabia se enfileirava as bonecas, organizava os jogos de tabuleiro ou se pedia ajuda ao pai, Adriano Marcos Arcanjo, para montar o quebra-cabeça. A euforia, na tarde dessa segunda-feira, tinha motivo: depois de 12 dias trocando de hotel, sem precisar o futuro, finalmente a família Arcanjo pôde respirar um pouco aliviada ao receber a chave de uma casa, em Mariana.
As famílias com crianças e idosos têm prioridade de se transferir para as casas, que variam de acordo com o tamanho da família. Adriano, pai da pequena Vanessa, trabalhava como pedreiro durante o dia em Bento Rodrigues e motorista de ônibus escolar à noite. Na tarde de 5 de novembro, data da tragédia, estava tomando banho quando ouviu as pessoas gritando na rua. Foi o tempo de pegar a esposa e a filha e acelerar o Fiat Palio para escapar da lama. No pequeno sítio ficaram um Fusca, uma caminhonete, álbum de casamento, bicicleta, galinhas, duas vacas, ferramentas de pedreiro e R$ 5 mil em dinheiro.
No porta-malas, além da saudade de Bento, sobraram dois galões vazios e as rédeas dos cavalos, que hoje dividem espaço com muitas sacolas de doações: roupas, brinquedos, cestas básicas. “A Samarco prometeu que, até arrumar, ela vai ajudar a gente com aluguel, salário. A gente pretende terminar de arrumar os documentos e conseguir emprego”, explica Adriano, que tem como maior desejo ver a vila reconstruída, com a mesma vizinhança e baia com água limpa para os cavalos.