A tragédia que atingiu Mariana, na Região Central do estado, fez acender um alerta em Paracatu, no Noroeste de Minas, distante aproximadamente 200km de Brasília. Rodeada por reservatórios similares, com materiais tóxicos, a cidade no Noroeste do estado abriga a maior extratora de ouro a céu aberto do país, localizada em perímetro urbano – uma das únicas no mundo com essas características. Diante da catástrofe de 5 de novembro, o Ministério Público Federal (MPF) decidiu abrir inquérito civil público para apurar a situação das estruturas que pertencem à Kinross Gold Corporation, multinacional canadense que explora a área. A comunidade de Paracatu, assim como a de Mariana, guarda características de patrimônio histórico e turístico e possui a mineração como vocação desde os tempos do garimpo.
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Especialistas ouvidos pelo Correio informaram que, caso os reservatórios em Paracatu se rompam, regiões próximas à cidade, em altitudes inferiores, poderão ser atingidas, o que não é o caso do Distrito Federal. Mesmo assim, o DF sofreria os impactos da devastação, com a infiltração dos materiais tóxicos no solo. Os estragos nas proximidades de Paracatu poderiam ser maiores que os observados em Mariana, já que os resíduos de retirada do ouro seriam mais prejudiciais.
Precauções
Após receber informações de que as barragens no estado estavam em situação delicada, o promotor de Justiça Felipe Faria de Oliveira, do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), afirmou que também vai solicitar dos órgãos competentes dados acerca das estruturas. “Assim, poderemos priorizar uma atuação direcionada às situações mais emergenciais”, afirmou o promotor.
O nível da água nas barragens é apenas um dos aspectos que devem ser observados durante a manutenção e fiscalização das estruturas.
O engenheiro Dickran Berberian, professor da Universidade de Brasília (UnB), sustenta que as barragens brasileiras estão entre as melhores do mundo. “Temos os melhores consultores técnicos nessa área. Essas estruturas praticamente não se rompem por aqui. Mesmo assim, é necessário fiscalização, tanto da parte de concreto, como da de solo.”
Procedimentos de segurança
A empresa Kinross divulgou nota sobre a situação de segurança das barragens em Paracatu, em que garante implementar “procedimentos rigorosos de manutenção, monitoramento e resposta a emergências, incluindo inspeções diárias e acompanhamento mensal por instrumentos e análise de dados.”
“A Kinross afirma que tem a segurança das comunidades locais, dos funcionários e do meio ambiente como prioridades em suas operações”, afirma a nota.
De acordo com o documento, a Kinross é “periodicamente inspecionada por engenheiros especializados e credenciados que projetaram as barragens, por representantes da comunidade, órgãos reguladores estaduais e federais e auditores internos e externos.” Além disso, peritos independentes também inspecionam as estruturas a cada três anos, segundo informações da empresa. “Controles e monitoramentos garantem e atestam a estabilidade da estrutura da barragem e a qualidade da água devolvida ao ambiente”, informa.
A especialista em barragens Rafaela Baldi Fernandes esclarece que, por lei, todo o empreendimento de mineração precisa protocolar um plano de segurança no órgão governamental de fiscalização.
O Correio publicou uma série de reportagens no início deste ano, após denúncias sobre uma suposta contaminação em massa por arsênio, substância tóxica que seria decorrente do processo de extração do ouro. Moradores e acadêmicos vinculados à cidade ainda fazem relação do problema com a incidência de câncer na região. O MPF solicitou novos estudos no município para esclarecer o fato. A Kinross rebate as alegações. As reportagens foram finalistas do Prêmio Esso deste ano..