Pequenos municípios do Leste do estado continuam enfrentando dificuldades no abastecimento, porque não podem usar a água do Rio Doce, tomado pelos rejeitos de mineração que vazaram após rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central. Em Governador Valadares, principal cidade da região, mais de 90% da população voltou a receber água nas torneiras desde segunda-feira, depois que a prefeitura local realizou um tratamento para melhorar a qualidade do líquido. Entretanto, cidades menores da região – como Galileia, Resplendor e Tumiritinga – continuam sendo castigadas pela falta do recurso. O abastecimento à população nessas localidades está sendo feito precariamente com caminhões-pipa, abertura emergencial de poços tubulares ou até mesmo com distribuição de água mineral.
O prefeito de Galileia, Romulo Gonçalves de Oliveira (PMDB), disse que, mesmo com a decisão judicial, a prefeitura enfrenta muitas dificuldades no abastecimento à população. “Infelizmente, o nosso município é muito pobre. A nossa estação de tratamento de água é arcaica. Não temos condições de fazer o tratamento da água suja do Rio Doce, como está sendo feito em Governador Valadares”, afirma Oliveira. O abastecimento é administrado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) da prefeitura. Ele ressalta ainda que, assim como outras cidades do Leste do estado, o município já vinha enfrentando problemas por causa da estiagem prolongada, o que agravou ainda mais a situação. “No município, só tem água na superfície do Rio Doce. Todos os outros reservatórios secaram. A única alternativa que nos restou foi usar os caminhões-pipa”, afirmou o prefeito. Entretanto, segundo ele, na semana passada, os moradores ficaram dois dias sem receber água.
Quadro semelhante é enfrentado em Resplendor, de 17,7 mil habitantes, onde o sistema também é gerenciado pelo SAAE, vinculado à prefeitura. A coordenadora da Defesa Civil Municipal da cidade, Márcia Dantas, disse que, em reunião com representantes da prefeitura, a Samarco e a Vale “fizeram o compromisso de que não deixariam faltar água para a população beber”. No entanto, segundo ela, mesmo com o compromisso assumido pelas empresas, “a situação está complicada”.
De acordo com a coordenadora da Defesa Civil, a água é captada em um poço-tubular e levada por caminhões-pipa até uma caixa-d’água do sistema de abastecimento da cidade. Dali, é enviada às residências, mas num sistema de rodízio – chega às torneiras em dias alternados. Os moradores de Resplendor também são atendidos com a distribuição de água mineral.
Em Tumiritinga, de 6,7 mil habitantes, onde o sistema é administrado pela Copasa, diante da impossibilidade do uso da água do Rio Doce, a captação para o abastecimento da população passou a ser feita em um poço tubular. “Mas a água do poço é salobra e mal serve para lavar roupa”, reclama o morador Willian Máximo da Silva.
Ele disse que a prefeitura faz a distribuição de galões de água mineral, doados pela Samarco. “Mas, na segunda-feira, quando a água mineral estava sendo distribuída, faltou organização, houve muito empurra-empurra e as pessoas idosas ficaram sem receber o produto”, afirmou Willian, lembrando que, após o tumulto, a prefeitura anunciou que vai distribuir os galões de água mineral de porta em porta, mas não tinha iniciado a entrega até a tarde de ontem.
Procuradas pela reportagem do EM, a Prefeitura de Tumiritinga e a Copasa não retornaram às ligações. Além de Turmitinga, a Copasa responde pelo abastecimento de Alpercata, outro município do Leste mineiro onde a população passou a ser atendida por caminhões-pipa, diante do impedimento do uso da água do Rio Doce, depois da chegada da lama das barragens de Mariana.
Fornecimento comprometido no ES
Com a captação da água do Rio Doce interrompida desde ontem, Colatina, no Espírito Santo, passou a depender de caminhões-pipa e caixas d’água para abastecer moradores, comércio e indústria. São cerca de 50 caminhões que planejam transportar, por dia, 1 milhão de litros de água – 30% do abastecimento normal da cidade. Com aproximadamente 120 mil habitantes, Colatina é totalmente dependente do Rio Doce, que foi comprometido pelo rompimento da barragem da Samarco, controlada pela Vale e BHP, em Mariana, a mais de 400 km de distância.