Mais de duas semanas depois da tragédia ambiental com o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, na Região Central de Minas, o Rio Doce passa hoje a ser monitorado por um balão equipado com câmera, que permite o acompanhamento aéreo da enxurrada de rejeitos que desce pelo curso d'água. Essa é uma das providências que a Samarco anunciou depois de decisão da Vara da Fazenda Pública, Registros Públicos e Meio Ambiente de Linhares, que determinou, a partir de diálogo com órgãos ambientais, que a mineradora adote as medidas necessárias para o escoamento da água do Rio Doce. "A adoção de medidas mitigadoras dos danos é urgente, mas o Rio Doce não é casa da mãe Joana", escreveu o juiz Thiago Albani Oliveira, na decisão. Em caso de descumprimento das determinações, o juiz fixou multa de R$ 20 milhões, além de multa diária de R$ 1 milhão no caso de abandono de obras exigidas na foz do Rio Doce. O valor será revertido para o Fundo Municipal de Meio Ambiente (Fundema).
O juiz encerra a decisão frisando que “qualquer plano de ação elaborado pela Samarco para o Rio Doce neste Município, incluindo sua foz, deve ser submetido aos órgãos ambientais, que face a gravidade do problema devem analisar conjuntamente as soluções apresentadas de forma célere, preferencialmente através de um comitê para este fim específico, informando as ações a serem executadas pela Samarco, pois a adoção de medidas mitigadoras dos danos é urgente, mas o Rio Doce não é casa da mãe Joana".
Com tanto já decorrido, o acompanhamento será feito fora dos limites de Minas, já no Espírito Santo, na parte Sul da foz, em Regência, até Povoação, na região de Linhares. O equipamento, batizado de OceanEye, contém um sensor triplo, capaz de produzir imagens de alta resolução em tempo real, dia e noite e permite o acompanhamento aéreo e mapeamento da região, com coordenadas georreferenciadas. O uso do balão é uma das ações da mineradora Samarco na região para direcionar a lama, que vazou da barragem, até sua chegada ao mar, no Espírito Santo.
Por recomendação do Ministério Público do Espírito Santo e órgãos ambientais, a empresa também está providenciando a remoção de bancos de areia localizados próximo à foz, para que a lama não encontre obstáculos na chegada ao mar. A orientação dessas instituições, de acordo com a mineradora, é de que se a enxurrada de rejeitos de minério chegue logo ao oceano, pois, segundo os especialistas, a diluição do material será muito mais rápida em função do volume de água. As medidas, segundo a empresa, têm também o objetivo de proteger a fauna e a flora na foz do Rio Doce. Para o trabalho, a Samarco afirma que quatro máquinas trabalham 24 horas nas escavações, com apoio de uma draga e bombas que ajudam a impulsionar a lama. Além do MP, as recomendações para proteger o Rio Doce partiram do Instituto Estadual de Meio Ambiente do Espírito Santo, Projeto Tamar e Instituto Chico Mendes.
Também para isolar a fauna e a flora que vivem no entorno nas duas margens do rio e em algumas ilhas localizadas no estuário, 9 mil metros de barreiras – feitas de lona 100% impermeável e fixadas no fundo do rio – estão sendo instalados em sentido longitudinal, mas sem impedir a chegada dos rejeitos ao mar. As barreiras variam de 60 cm até 2,1 metros de altura, que é adaptada de acordo com a profundidade de cada ponto de instalação. De acordo com a Samarco, as estruturas têm alta resistência e são capazes de suportar ventos de 20 km/hora e ondas de 3 metros. A instalação das barreiras teve início na parte sul da foz, em Regência, e segue até Povoação, na região de Linhares. O processo, segundo a empresa, levou em consideração mapeamento das áreas e ecossistemas da região da foz. O planejamento também considerou a velocidade da corrente e profundidade do rio nesses locais. Quatro frentes de trabalho, com mais de 50 pessoas e diversas embarcações, atuam simultaneamente na instalação.
Além dessas medidas, o juiz determinou o imediato resgate de representantes de todas as espécies da fauna aquática nativa e que utilizam o rio como habitat natural, com o intuito de salvaguardar a variedade genética, com exceção de espécies exóticas, devendo ser quantificados e catalogados, devendo a ação ter amparo técnico e supervisão dos órgãos competentes. A empresa deverá também resgatar, imediatamente, os ovos das tartarugas marinhas que podem ser afetadas pela mancha de contaminação.
Em sua decisão, o juiz destacou que “o pedido principal da presente demanda é garantir que a lama expelida com o rompimento da barragem em Minas Gerais – que já passou por diversos municípios – passe sem retenções por Linhares, o último município antes de a lama atingir o mar”. De acordo com o Município de Linhares, autor da ação, existem dois fatores que indicam que os rejeitos de minério venham a “estacionar” em Linhares. O primeiro dos fatores é a perda da força de correnteza da lama tóxica ao longo dos vários quilômetros que já percorreu. O segundo é a situação atual do nível de água do Rio Doce, que se encontra extremamente baixo, em virtude do assoreamento e da falta de chuvas que nos últimos meses vêm prejudicando a cheia do rio.
O Município ainda afirma que, em coletas de água realizadas para análise, a água do Rio Doce apresentou alto índice de ferro, o que inviabiliza seu tratamento para consumo, além de grande quantidade de mercúrio, que é altamente tóxico para qualquer forma de vida aquática. Para realizar o planejamento das ações, a Samarco afirma ter contratado uma empresa internacional especializada em emergências ambientais, com atuação em eventos naturais como o Furacão Katrina, ocorrido em Nova Orleans, nos Estados Unidos. “A operacionalização das ações está sendo feita por companhia internacional especializada em proteção ambiental no mar e rios do Brasil”, informou a mineradora por meio de nota.