Itambacuri - O drama vivido por cerca de 16 mil habitantes, que estão sem o abastecimento público regular de água no município de Itambacuri, no Vale do Mucuri, a 420 quilômetros de Belo Horizonte, faz com que muitas pessoas ajudem aqueles mais necessitados, criando uma corrente de solidariedade na cidade. A situação complicada levou a comunidade de itambacurienses que mora nos Estados Unidos a doar 45 caminhões desde a interrupção do fornecimento, totalizando ajuda de R$ 18 mil.
Nascido em Itambacuri, o funcionário de um bar na cidade de Danbury, no estado americano de Connecticut, José Afonso D’Avila Teixeira, de 35 anos, é um dos que mais correu atrás de ajuda para os conterrâneos. “Nós ficamos bem assustados quando soubemos da falta de água porque é uma coisa inédita na história da cidade”, conta o mineiro radicado nos Estados Unidos há 15 anos. “Nós já tivemos ajuda de gente de toda parte. Amigos de outras regiões do Brasil que vivem aqui, americanos, latinos e também amigos que vivem no Brasil atualmente e que aderiram à nossa campanha. Graças a eles, já doamos mais de 40 caminhões de água ao nosso município”, completa.
Moradora de Itambacuri, a irmã de José Afonso, Daniela D’Avila, de 37, comerciante, é uma das pessoas que mais ajudam no gerenciamento dos caminhões doados, que, segundo ela, são mandados exclusivamente aos pontos mais pobres do município. “A cidade está uma loucura.
FALTA CONTROLE, SOBRA DESPERDÍCIO
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Outro problema é o déficit de hidrômetros na cidade, o que impede o controle do consumo pelo Saae e também a maior conscientização das pessoas para o desperdício. Fontes afirmam que a soma da ausência dos aparelhos com os que estão estragados inviabiliza cerca de 40% das medições, o que foi negado pelo prefeito. Segundo Vicente Guedes, dos 9 mil imóveis do município, 7 mil estão ligados à rede pública de abastecimento, sendo 5,5 mil registrados com hidrômetros. “Já temos um lote de 600 instalados ou sendo implantados e vamos adquirir os demais por meio de um consórcio de SAAEs com um preço bem acessível.”
Palavra de especialista
Leonel de Oliveira Pinheiro
Univ.
À beira de um colapso
“A situação é de calamidade, mas principalmente de irresponsabilidade dos gestores. Não há reversão a curto prazo. A grande questão colocada é: vamos fazer barragem. Mas você vai enchê-la com o quê? É necessário se pensar na recuperação das microbacias. Especialmente a microbacia que abastece a cidade. E esse trabalho não existe, infelizmente. Nós estamos apenas no início dessa crise. Os próximos anos serão piores. E a cidade está à beira de uma convulsão social.
Personagem da notícia
Argemiro Monteiro, aposentado, 93 anos
Difícil de acreditar
A vida do aposentado Argemiro Monteiro, que ainda mantém a lucidez mesmo com 93 anos, se confunde com a história de Itambacuri. Acostumado a rodar por todos os pontos do município, ele resgata suas memórias. “Nunca aconteceu de chegar a um ponto desses na minha cidade. Se a chuva não durar para valer, as pessoas vão começar a morrer de sede, igual carrapatos”, afirma. Seu Argemiro mora no ponto mais alto do Bairro Santa Clara e conseguiu um alívio com a colocação de uma caixa d’água no fim da rua, ao lado de sua casa. “Até mesmo aqui do lado eu tenho dificuldade de ir buscar. Lá embaixo, só com a ajuda de quem puder trazer algum balde até aqui”, diz o idoso. Percorrendo a ladeira para acesso à casa de seu Argemiro, a cena é de apertar o coração.