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Presidente da Samarco pede desculpa a atingidos após 17 dias do rompimentoMinistra do Meio Ambiente admite que desastre ambiental em Mariana ainda não terminouMinas e Espírito Santo vão ajuizar ação conjunta contra Samarco, por reparação ambientalMP faz recomendações sobre buscas por desaparecidos em MarianaLama de rejeitos da Samarco interdita praias de Regência Augusta e Povoação, em Linhares Time de Bento Rodrigues volta a jogar após ter campo destruído pela lamaEm Barra Longa, fazendeiros estimam perda de 2 mil cabeças de gado com tsunami de rejeitosBombeiros retomam buscas em Ponte do Gama nesta segunda-feiraBarragens desativadas acendem sinal de alerta em MinasO cenário mais devastador ocorreu no Rio Gualaxo do Norte, onde o tsunami de lama chegou depois de destruir Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana em que pelo menos duas pessoas morreram, três estão desaparecidas e 600, desabrigadas. Ao todo, até a noite de ontem, eram 11 pessoas procuradas, oito mortos identificados e quatro corpos sem identificação.
TURBILHÃO A onda de lama foi tão forte que, ao entrar no leito, chegou a subir rio acima, vencendo a correnteza por mais quatro quilômetros, derrubando a ponte que levava ao distrito de Camargos e abrindo um cânion dos dois lados da estrada. A energia e o volume dessa massa de rejeitos e água invadindo o rio ficaram impressos no trecho próximo à estação de bombeamento de água da Samarco, no fundo do vale do Gualaxo. O edifício de concreto e metal ficou completamente desfigurado e os postes de energia foram revirados com cabos e equipamentos.
Acima, um rastro marrom e linear marcou na área de densa mata atlântica o nível máximo que atingiu a inundação de lama e rejeitos minerais, chegando a 12 metros de altura pelas bordas do vale do Rio Gualaxo do Norte. Sob esse marco, até a margem do manancial, um tapete de troncos, galhos e raízes de madeiras de lei apodrece emaranhado na lama endurecida. No fundo dessa estrada de lama e destruição, em meio ao deserto ressecado, corre a água vermelha, de aspecto denso e estéril, que substituiu uma correnteza que costumava ser clara e repleta de peixes.
EXTINÇÃO EM MASSA Na região, ninguém mais vê traço dos lambaris, traíras, mandis, acarás e tilápias que antes eram fisgados pela comunidade. Para muitos pescadores, a lama extinguiu todos, já que não foram mais vistos espécimes na zona atingida, nem mortos nas margens.
A tristeza para ele é maior, porque, entre os barrancos para pescaria, tinha predileção pelos de Bento Rodrigues, para onde ia todos os sábados. Tinha até pontos preferidos nas margens do Gualaxo do Norte, onde sabia que os peixes “mordiam mais”. “Uma vez, um colega meu viu uma traíra grande, bitelona mesmo. Combinamos de ele armar o anzol em cima (no alto do rio) e eu mais embaixo. Na hora que senti a fisgada, vi só o olhão dela pulando. Uma alegria, rapaz, pegar aquela bitela de 1,2 quilo.” Emoções e locais que agora existem apenas na memória do pescador, que nem consegue mais reconhecer os antigos pesqueiros, sepultados debaixo de tanta lama.
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