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Estado de Minas

Conjunto musical de Mariana participa de encontro de bandas em BH


postado em 23/11/2015 06:00 / atualizado em 23/11/2015 09:08

A Sociedade Musical União XV de Novembro, de Mariana, participou do Encontro de Bandas na capital(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
A Sociedade Musical União XV de Novembro, de Mariana, participou do Encontro de Bandas na capital (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Esquecer a tragédia, jamais. O que resta aos moradores afetados pelo rompimento da barragem da Samarco é resgatar a alegria de viver. O carpinteiro Edson Carlos Serra, de 46 anos, segue tocando tuba. Apesar de viver em Mariana, ele nasceu e cresceu no distrito de Bento Rodrigues, onde parte da família ainda morava. Hoje integrante mais antigo da Sociedade Musical União XV de Novembro, Edson veio a Belo Horizonte para participar do Encontro de Bandas, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura (SEC). Ver o público sorrir é uma forma de amenizar a vontade de chorar.

Emocionado, o carpinteiro conta que a casa da família havia sido reformada em março e o plano era pintá-la no fim do ano. O imóvel ficava na Rua São Bento, em frente à escola. Era para Edson estar em Bento Rodrigues. Se o sobrinho estivesse de folga naquela semana, eles bateriam laje na casa da irmã. “Era capaz de ter sucumbido. Ia continuar lá enquanto tivesse gente para resgatar”, garante. O carpinteiro também agradece a Deus por ter poupado sua mãe, de 78, que estava em Mariana para acompanhar o nascimento de um bisneto. “Ela teria ficado para trás se estivesse em Bento.”

A irmã de Edson, que mora em Bento Rodrigues, estava fazendo unha quando soube do rompimento da barragem. Uma vizinha dava o alerta aos gritos. Por sorte, ela teve tempo de voltar em casa, resgatar o marido, que tem dificuldade de locomoção desde que sofreu um acidente vascular cerebral, e colocar um dos cachorros dentro do carro. “Ela disse que não dava nem para olhar para trás. A lama já estava pegando nas rodas do carro”, relata. O resto desapareceu na enxurrada. Não havia nenhum pertence de Edson na casa. “Só a minha história”, conclui, a um passo de derramar lágrimas.

O carpinteiro só recebeu a notícia por volta das 19h30. Nesse momento, os sobreviventes já estavam abrigados na casa de outra irmã, que fica numa parte mais alta do distrito. Depois de constatar que todos estavam bem, ele passou a noite toda transportando água e moradores.

Segundo Edson, todos tinham noção de que as barragens da Samarco poderiam se romper, mas não imaginavam que o desastre teria essa dimensão. “Bento estava ilhado, então provavelmente iam tirar as casas de lá. Soube que a empresa fez uma oferta para comprar os imóveis, mas não aceitaram. Ninguém queria se mudar.” O carpinteiro confirma que não existiam sirenes para alertar os moradores do perigo – o que poderia fazer com que tivessem tempo para retirar, pelo menos, os pertences –, mas não culpa totalmente a mineradora pela tragédia.

Edson, inclusive, torce para que a Samarco continue em atividade, já que Mariana depende economicamente do funcionamento da empresa. “Se me chamaram para trabalhar lá, vou na hora.”

INTERCÂMBIO
Além de Mariana, as cidades de Perdões, Malacacheta, Sabará, Turmalina e Itabirito foram representadas no Encontro de Bandas, ontem, na Praça da Assembleia. O evento ocorreu no dia de Santa Cecília, a padroeira dos músicos. “Um dos desejos das bandas do interior é tocar na capital. Trazê-las para cá também é uma oportunidade de fazer um intercâmbio entre a musicalidade do interior e os belo-horizontinos. As bandas de música fazem parte da cultura de Minas”, comenta o superintendente de interiorização e ação cultural da SEC, João Miguel.

Existem 680 bandas cadastradas. A Sociedade Musical União XV de Novembro, de Mariana, por exemplo, foi fundada para fins políticos, em 1901. O objetivo era propagar os ideais republicanos frente ao regime monárquico. Todo ano, a SEC disponibiliza recurso para a compra de instrumentos musicais por meio de editais. Até o fim do ano, terá contemplado 100 grupos. Para o ano que vem, a novidade será a oficina para músicos e maestros.

Três perguntas para...

Edson Carlos Serra, de 46 anos, carpinteiro

1 - O que você sentiu quando se deparou com o cenário de destruição?

Todo mundo ali tinha um cantinho, uma história. Tinha um pé de manga onde a gente brincava de pique, hoje não tem nada, só lama. A gente não acredita ainda que acabou tudo, e acabou mesmo. Tem que cair a ficha, Bento já era. Virou uma cidade-fantasma.

2 - O que restou da casa da sua família?

Só dá para saber onde era o nosso terreno devido a uma moita de bambu que resistiu.

3 - Onde Bento Rodrigues deve ser reconstruído?

Lá não é mais viável. Os moradores querem uma vila próximo. Não querem prédio, porque estão acostumados com horta no quintal de casa, nem querem viver separados. A Samarco deve usar a área para fazer barragens com mais segurança. Só serve para isso.


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