Doze famílias de Bento Rodrigues, distrito de Mariana, assim como a de Dona Maria, foram as últimas cadastradas pela Samarco a solicitarem o retorno a suas casas para recuperar móveis, eletrodomésticos e objetos pessoais. Ontem, os móveis e pertences deles foram carregados em 12 caminhões e, segundo funcionários da empresa, não há mais pedidos dos desabrigados. As mudanças estão sendo realizadas paulatinamente desde terça-feira da semana passada.
Os moradores de Bento Rodrigues são vítimas do rompimento da barragem do Fundão, no dia 5 de novembro. A represa é de responsabilidade da mineradora Samarco (controlada pela Vale e pela BHB Billinton). Além das mortes e de devastar Bento Rodrigues, outras comunidades de Mariana e Barra Longa, provocou o caos no abastecimento das cidades às margens do Rio Doce. A lama tóxica atingiu também o Oceano Atlântico.
O marido de dona Maria, Benedito Valadares Damas, de 73 anos, era só pesar ao se despedir de seu pomar. Deixou para trás um pé carregado de jabuticabas maduras, outro de pêssego, vários de laranja, mexerica e muitas bananeiras.
A chácara de Benedito, de dois hectares, também ajudava o aposentado a conseguir um complemento de renda. Vendia hortaliças, frutas e legumes em Bento Rodrigues e em Mariana. “Aqui era um lugar feliz”, lamenta. Na horta agora há somente um monte de terra revolvida, local que ele mesmo cavou para sepultar suas 10 galinhas. As aves foram abandonadas após o tsunami que tomou o distrito, morrendo de fome.
A esposa de Benedito está aflita, pois ainda não sabe onde irá viver. Desde a tragédia, eles estão morando com uma filha, na cidade de Catas Altas, a 49 quilômetros de Mariana, mas tanto dona Maria como Benedito temem que nunca mais consigam encontrar um lugar semelhante ao que passaram os últimos 50 anos.
Era tanta a tristeza do mecânico Aluísio Alves, de 41 anos, ontem, no dia do adeus a Bento Rodrigues, que preferiu preservar o pai, Antônio Alves, de 69 anos, de acompanhar a mudança dos móveis e dos poucos pertences que restaram na casa invadida parcialmente pela lama.
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Na residência de Lucélia Santos Serra, o barro ainda domina a sala e destoa do capricho dos moradores, com a pintura da parede em verde e um sofá com uma capa rosa. “Depois da morte da minha mãe, há três meses, foi a pior tragédia da minha vida”, compara Lucélia, que com a irmã, Sônia Aparecida Ferreira, foi à casa do pai tentar recuperar alguns móveis.
ESCOLA Num quarteirão abaixo, numa construção com parte das paredes de pé se destaca um quadro, com pinturas de vasos de flores, que permaneceu pendurado. Do outro lado da rua, a arrasada Escola Municipal de Bento Rodrigues. Algumas lousas ainda estão lá. Numa delas, alguém escreveu com barro: “Aqui tinha uma escola”..