A pressão exercida pela mineração sobre Mariana, na Região Central do estado, não vem só da Samarco, dona da barragem que se rompeu no início do mês, matando 12 pessoas, deixando outras 11 desaparecidas, devastando comunidades e provocando o maior desastre do tipo na história. Atividades minerárias na área da cidade histórica motivaram 54 autos de infração emitidos pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) desde 1996. Além da Samarco, que responde por 23 dessas irregularidades, conforme mostrou o Estado de Minas na edição de 18 de novembro, a Vale – maior mineradora do país e controladora da Samarco, em associação com a australiana BHP Billiton – colecionou nove autuações nos últimos 19 anos apenas na cidade onde se originou a tragédia. Outros 22 autos foram emitidos contra empreendedores diversos de menor porte, dos quais dois já figuram na dívida ativa do estado e cinco ainda aguardam a inscrição de seus nomes no mesmo cadastro, por não pagarem as multas. Os dados são do Sistema Integrado de Informação Ambiental (Siam), controlado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).
A situação é ainda mais preocupante quando se considera que essas autuações ocorrem em um contexto no qual a fiscalização é considerada frágil e dispõe de pouco pessoal para dar conta da demanda de todo o estado. Das nove infrações registradas contra a Vale, quatro somam valores superiores a R$ 76 mil. Um dos autos direcionados à companhia é datado de 2002 e a informação que consta no sistema é de que a multa, de R$ 21.282, foi quitada pela empresa. Um parecer jurídico eletrônico diz que a motivação da punição foi o lançamento de resíduos sólidos provenientes da extração e beneficiamento de minério de ferro em Mariana no curso do Rio Piracicaba, um dos seis principais afluentes do Rio Doce.
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Para o doutor em gerenciamento ambiental Hernani Mota de Lima, professor do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), a quantidade de autos de infração mostra a importância de uma fiscalização rigorosa, principalmente porque a mineração é uma atividade de risco.
A Semad, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que a Subsecretaria de Fiscalização e Controle Ambiental (Sucfis) faz, anualmente, um planejamento de fiscalização que leva em consideração pontos de pressão regionais, denúncias ambientais, requisições de órgãos de controle, além de informações do Sistema Estadual do Meio Ambiente (Sisema). A subsecretaria “procura definir os alvos e ações sempre agregando inteligência, estratégias e informações, a fim de conseguir o máximo de efeito com o mínimo de força”, informa a pasta. Sobre a resolução dos problemas levantados pelas fiscalizações, a pasta informa que a partir do momento que o auto de infração é lavrado, não é mais o fiscal que acompanha os desdobramentos. A responsabilidade fica a cargo do setor da secretaria relacionado com cada tipo de agressão. Se houver a necessidade de recomposição de flora, por exemplo, quem acompanha o processo é o Instituto Estadual de Florestas (IEF).
A Vale foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou sobre as irregularidades de sua atividade em Mariana que geraram multas pela Semad. A Samarco também não retornou os contatos do Estado de Minas até o fechamento desta edição.
Minas de agressões
Mesmo em um contexto de fiscalização considerada frágil e com pouco pessoal, mineradoras colecionam punições por irregularidades ambientais em Mariana.
54 autos de infração emitidos para atividades minerárias diversas exclusivamente no território de Mariana desde 1996
23 para a Samarco
9 para a Vale
4 dessas punições somam R$ 76.753
22 para empreendedores diversos – cinco aguardam inscrição na dívida ativa do estado e dois já estão nesse cadastro por não quitarem as multas .