“Tinha acabado de começar. Fazia pouco mais de um mês que estava trabalhando”, lamenta Samuel, que recebia salário de R$ 1,6 mil. Ontem, ele aproveitou o tempo livre e acompanhou o pai, Sérvulo Caetano da Silva, de 65, a uma visita à casa da família, que foi atingida parcialmente pela lama. Os dois foram tratar das galinhas que restaram no quintal e se espantaram – mais uma vez – ao observar o cenário de destruição do pequeno distrito, que tinha cerca de 200 moradores.
A onda de rejeitos também acabou com o emprego de Elias Geraldo de Oliveira, de 43. Ele trabalhava como funcionário de uma fazenda, que foi tomada pelo barro. Elias ia trabalhar todos os dias de motocicleta, que havia comprado recentemente. A moto, agora, está embaixo da lama, assim como a casa de seu pai e todo o terreno da família Oliveira, com outras seis casas onde moravam seus irmãos.
Sérvulo se refere à barragem do Germano, que também está com a segurança ameaçada. Tanto a estrutura do Fundão como as do Germano e de Santarém (também com índice de segurança abaixo do recomendado) pertencem à Samarco, mineradora controlada pela Vale e BHP Billinton.
FIM DO PARAÍSO Os empregos gerados pela Samarco e pela Vale em suas minas na região de Mariana sempre foram a esperança de muitos moradores das comunidades atingidas conseguirem um trabalho. O pedreiro Luiz Cássio Gonçalves tem uma roça em Paracatu de Baixo e trabalhou em diversas empreiteiras terceirizadas pelas duas mineradoras. “O forte aqui é isso, mas depois dessa tragédia não tem mais nada”, lamenta. Diante da falta de perspectiva, ele decidiu retornar à Paracatu de Baixo ontem e semear feijão e milho em seu terreno. “Se as coisas piorarem muito, pelo menos o garanto o básico para comer”, explicou.
A roça de Luiz fica no alto do morro, em um local que a lama não chegou, já os três hectares de Antônio Elói, de 62, foram completamente destruídos, assim como o curral, onde mantinha três vacas leiteiras, 22 galinhas poedeiras e a casa em que vivia. “O que aconteceu aqui foi uma loucura. Uma devastação completa. Aqui na frente da casa era tudo gramado.
Na beira do Rio Gualaxo do Norte, a propriedade de Antônio era considerada um paraíso por quem a conheceu. Repleta de árvores frutíferas e bem cuidada, era ponto ideal para admirar o rio, que agora está com água imunda pela lama. Ontem, após uma breve chuva, o local ficou repleto de tanajuras. Os insetos, segundo os moradores de Paracatu do Norte, eram a isca ideal para pescar peixes graúdos. “Não tem mais nada. A lama matou os peixes”, afirma Antônio, que perdeu também o complemento de renda da aposentadoria, pois vendia ovos e leite.
VAGAS O coordenador de desenvolvimento socio-institucional da Samarco, Estanislau Klein, disse em uma reunião com os moradores, na noite de terça-feira, que a empresa está cadastrando os atingidos para avaliar o perfil deles e tentar encaixá-los nas vagas que serão abertas nos trabalhos de reconstrução. Klein destacou que os postos serão para os setores de construção, manutenção e limpeza.
Enquanto isso... Sirenes, enfim, são instaladas
Após o rompimento da Barragem do Fundão e de ter ignorado o plano de emergência, a Samarco instalou alarmes nas comunidades que foram atingidas. Foram colocadas sirenes em Paracatu de Cima, Pedras, Ponte do Gama, Campinas, Gesteira e Camargos. Em Paracatu de Baixo, a sirene foi instalada no alto de um poste de energia elétrica.