Jornal Estado de Minas

Saiba como foi criada a capa do EM que viralizou na internet

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De rabiscos num pedaço de papel durante a reunião de pauta na manhã de quarta-feira à escolha detalhada dos temas que compuseram a capa da edição do dia seguinte, o desafio da equipe da primeira página do Estado de Minas foi enfatizar a gravidade das notícias de um dos dias mais conturbados da política brasileira, mas sem submeter a segundo plano a maior tragédia ambiental da história do país.

A solução gráfica e editorial veio a partir de uma referência musical. Quase três décadas depois do lançamento de Que país é este, a inquietação da icônica música da Legião Urbana foi a motivação até o resultado visto nas bancas e na edição digital. Deu certo: com a rápida propagação nas redes sociais, a capa do jornal foi comentada durante todo o dia no país inteiro.

“A capa, além de continuar destacando a maior tragédia ambiental da história, também representa a tentativa de sintetizar uma indignação coletiva que vem de décadas e, infelizmente, ainda é atual”, comenta o diretor de Redação do Estado de Minas, o jornalista Carlos Marcelo Carvalho, também autor da biografia Renato Russo, o filho da revolução, lançada em 2009.

Nos primeiros esboços, uma tipologia diferente da usada na primeira página do EM foi cogitada para ajudar a reunir os temas relacionados à tragédia com a barragem de minério em Mariana e a prisão do líder do PT no Senado, Delcídio do Amaral. “Tentamos uma versão com letra cursiva, simulando uma cópia escrita num papel, mas logo percebemos que seria melhor usar a mesma tipologia ligada à cobertura da tragédia de Mariana”, explica Janey Costa, editor de Ilustração e Infografia do Estado de Minas.

Definida a estética da primeira página a partir da ideia esboçada pelo diretor de Redação, o desafio foi usar versos da música da Legião nos títulos dos textos relacionados a matérias de editorias distintas do EM, como Política, Gerais e Cultura. “Nas praias, nos rios, no Senado... Sujeira pra todo lado. Que país é este?”.
Além desses destaques, outros títulos também foram escritos a partir de trechos da letra de Renato Russo. A frase “Que país é este?”, proferida pelo ex-governador mineiro Francelino Pereira quando era líder do partido governista Arena nos anos 1970, foi utilizada pelo cantor no repertório de sua primeira banda, Aborto Elétrico, e gravada pela Legião Urbana no disco Que país é este, lançado em novembro de 1987.

“A capa foi desenhada dentro de uma modulação que desse o ritmo da música, com todos os títulos ligados. Ao ler cada um, o ritmo da música torna-se presente na sua cabeça”, comenta Janey. O toque final veio do editor de artes gráficas do jornal, Álvaro Duarte: ele arrematou o trabalho desenvolvido por Janey e pelo diagramador Alexandre Perez, que ganhou então os textos escritos pelo editor Ney Soares Filho e pelo subeditor Rafael Alves. “Um dos desafios foi incluir entre os textos temas igualmente importantes, mas aparentemente diversos, como exposição fotográfica sobre ameças sofridas pelo povo ianomami”, comenta Rafael Alves.

Com dezenas de milhares de compartilhamentos nas redes sociais, em poucas horas a capa viralizou. No Twitter (@em_com e @portaluai), o Estado de Minas apareceu em terceiro lugar no trending topics (assuntos mais comentados) do Brasil. A publicação foi vista por mais de 45 mil pessoas no microblog e teve mais de 7 mil engajamentos, entre retuítes e outras interações.
No Facebook, até o fim da noite, foram mais de 100 mil compartilhamentos e mais de 10 milhões de pessoas alcançadas pela publicação..