Vinte e dois dias após o rompimento da barragem da Samarco em Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, na Região Central do estado, a Vale, controladora da Samarco junto com a australiana BHP Billiton, anunciou a criação de um fundo monetário – sem valor definido – para recuperar a área devastada pela lama, especialmente para revitalizar o Rio Doce, que teve 80% de seu curso degradado, segundo admitem os próprios dirigentes da gigante da mineração. Os gestores da empresa disseram que pretendem contar não só com o dinheiro da Vale e da BHP, mas esperam que outras companhias contribuam para viabilizar os recursos necessários à recomposição do meio ambiente. Porém, não foi apresentada nenhuma estimativa de quando isso se tornará realidade. A maior mineradora do Brasil se esquivou de responsabilidades financeiras imediatas, atribuindo à Samarco o papel de sanar os problemas mais urgentes.
Vale falou pela primeira vez separadamente da Samarco quase um mês depois da tragédia. O diretor-presidente, Murilo Ferreira, reuniu quatro diretores e um consultor para responder perguntas dos jornalistas no Rio de Janeiro e abriu a entrevista falando sobre a criação do fundo. “Não é nada impositivo. É um fundo voluntário para ajudar a recuperação do Rio Doce”, disse o executivo. A diretora de Recursos Humanos, Saúde, Segurança, Sustentabilidade e Energia, Vânia Somavilla, completou que o dinheiro disponibilizado será o necessário para revitalizar o manancial.
Entre os problemas a serem solucionados, Vânia Somavilla citou a revitalização de nascentes, recomposição de vegetação ciliar, desassoreamento e saneamento. Ela garantiu que o maior problema não será o dinheiro, mas sim a capacidade operacional, já que só em mudas de árvores há uma estimativa de que seja necessário plantar 500 milhões de exemplares. A capacidade de uma reserva florestal da Vale em Linhares (ES) é de 5 milhões de mudas por ano.
VENENO ‘REVOLVIDO’ Embora tenha reconhecido a presença de metais pesados associada à passagem da mancha de rejeitos pelo Rio Doce, a empresa reiterou a negativa de existência de elementos tóxicos nos rejeitos que vazaram da Samarco. Segundo Vânia Somavilla, a lama é formada por areia e argila, além de amina, matéria orgânica usada na separação do minério. Citando relatórios do governo de Minas, a diretora disse que a presença de outros elementos em análises da água após o acidente – como chumbo, arsênico, níquel e cromo – pode ter sido provocada pelo efeito da passagem da lama “em áreas já contaminadas”.
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Já o diretor de Ferrosos, Peter Proppinga, disse que a Samarco também é a responsável pela destinação na Barragem do Fundão dos rejeitos encaminhados pela Vale. “A Samarco define um ponto fixo onde a Vale deposita o rejeito. Esse ponto fica fora do corpo principal da barragem. A Samarco redireciona os fluxos desse rejeito para redistribuir dentro da barragem que ela gerencia”, diz o diretor.
Quem também respondeu perguntas foi o diretor de Planejamento de Ferrosos, Lúcio Cavalli. Ele afirmou que a Vale tem 163 barragens em todo o Brasil, 123 delas em Minas, com destaque para o Quadrilátero Ferrífero. Cavalli disse que a empresa estuda técnicas de mineração a seco, mas admitiu que hoje o sistema de barragens é imprescindível para o sucesso financeiro das mineradoras brasileiras. “Sem barragens, o Brasil não consegue manter o nível de produção atual com produtos de qualidade para competir no mercado internacional.”
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