Qual é o papel da psicanálise na sociedade mediada pela comunicação eletrônica? Coletânea de textos assinados por oito psicanalistas, o livro Clínica psicanalítica contemporânea tenta dar respostas a essas e outras questões contemporâneas que levam a humanidade a viver um paradoxo entre as aparências – a exemplo daquilo que se mostra nas redes sociais – e as relações reais. Na obra, os autores, que atuam em campos diversos da psicanálise, mostram que a ciência criada por Sigmund Freud no século 19 se reinventou para atender à demanda da atualidade, mas continua tendo como principal questão o vazio de ser.
“Apesar de toda a diversidade da cultura contemporânea, e também dos próprios textos publicados, que têm uma variedade entre si, cada um dentro de uma perspectiva, o livro mostra que a psicanálise se modificou, acompanhando as mudanças da cultura. Hoje não trabalhamos mais como na época de Freud. Os processos analíticos são mais rápidos. O fundamental da psicanálise agora é que o inconsciente é abordado como um vazio, um furo. Isso significa que as formações do inconsciente mudaram, no entanto o ‘buraco’ continua. O vazio da estrutura do ser humano permanece e é isso que move o mundo”, comenta a psicanalista e psicóloga Gilda Vaz Rodrigues, autora do texto “Hoje, a psicanálise”.
A ideia de reunir textos sobre psicanálise no mundo contemporâneo foi do psicólogo e psicanalista Rodrigo Mendes Pereira, que junto com a colega Bárbara Goecking escreveu sobre os relacionamentos amorosos e a clínica psicanalítica. “Convidei alguns autores para analisar o assunto já que, hoje, estamos lidando com pessoas que estão 24 horas conectadas.
VAZIO Para Gilda Vaz Rodrigues, o que mudou foram as formações do inconsciente. “Hoje, as pessoas tem outras formas de gozo, diferentes da época vitoriana, por exemplo. A gente está vendo terrorismo, estado islâmico. Tem tanta lama que nota-se que o ser humano ainda é o mesmo. Isso faz a psicanálise se tornar atual, do contrário ela mudaria da mesma forma que a cultura. A psicanálise tem um objetivo muito específico e ele permanece, o que mudam são as formas de lidar com esse vazio”, observa a psicanalista.
“O mundo contemporâneo obturou os intervalos de tempo que tínhamos antes da TV, dos celulares, internet, enfim, o vazio que permitia o contato com o mais íntimo de nós mesmos acabou preenchido pela tecnologia. O tempo de esvaziamento se tornou pequeno. Mesmo assim as pessoas estão insatisfeitas porque o núcleo do ser de cada um é onde o sujeito se encontra consigo mesmo. Daí vem a inspiração para amar, trabalhar e sair do automatismo”, explica Gilda. Nesse sentido, o desafio da psicanálise é justamente oferecer algo que vai na contramão dessa tendência e de tudo que ofereça plenitude ao sujeito. O que a ciência de Freud oferece é um encontro com o vazio para que a pessoa possa lidar consigo mesma e encontrar o seu jeito de gozar a vida.
SERVIÇO
LANÇAMENTO
Clínica psicanalítica contemporânea
Hoje, das 11h às 15h
Na Livraria Scriptum (Rua Fernandes Tourinho, 99 – Savassi)
Terca-feira, 01/12, das 19h às 22h
No Restante Verdinho (Avenida Cônsul Cadar, 126 – São Bento).