Santa Cruz do Escalvado – A preocupação e a lama viajam juntas pela Bacia do Rio Doce desde o rompimento da Barragem do Fundão, pertencente à mineradora Samarco, em 5 de novembro, em Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana. Desta vez, elas aportam em Santa Cruz do Escalvado, na Zona da Mata, onde a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga) paralisou suas atividades após o desastre.
Na cidade, distante 100 quilômetros da Mina do Germano, onde ocorreu o desastre socioambiental, o medo é duplo. O primeiro temor se relaciona com o prejuízo causado pela interrupção do funcionamento da usina. O segundo diz respeito à ameaça de um novo acidente em Bento Rodrigues, onde as barragens do Germano e Santarém apresentam instabilidade e, de acordo com o Ministério Público de Minas Gerais, com “risco iminente de rompimento,” o que também traria mais prejuízos para a população.
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Recuperação de áreas atingidas pela lama da Samarco pode durar até 30 anosSamarco terá que limpar lama que vazou de barragem, diz MPServidores são investigados por irregularidades em emissão de licençasEmpresa que controla reservatório de Candonga desmente esvaziamentoPor causa disso, a Justiça acolheu ação civil pública encaminhada pelo MP e pelo governo do estado, determinando que a Samarco, a Vale e a Cemig, sócias na operação da usina, a esvaziem até esta segunda-feira, o que não foi cumprido. A multa pelo descumprimento desta ordem judicial é de R$ 1 milhão por dia.
Não há perigo físico para os moradores de Santa Cruz, distante sete quilômetros da usina, mas um novo rompimento de barragem em Mariana faria com que a usina demorasse ainda mais a voltar a operar, aumentando os prejuízos para o município, que tem na hidrelétrica a sua principal fonte de arrecadação.
PERDA DE ROYALTIES “Ela está esvaziando e com isso vamos perder os royalties.Vai parar tudo” diz, desolado, o prefeito Gilmar de Paula Lima (PMM). Ele informa que os prefeitos dos municípios atingidos pela tragédia em Mariana estão se reunindo para buscar soluções. “Perder receita é o pior para as cidades que recebem royalties”, afirmou.
Os moradores também estão preocupados. “Com a usina parada, lá se vão os recursos,” diz Walter Palhares.
Para o lavrador Geraldo Celestino de Oliveira, o mais grave é a destruição do Rio Doce. Ele também lamenta as perdas pessoais, lembrando que a lama que passou pelas turbinas da hidrelétrica e chegou ao rio abalou a estrutura de sua casa, na área rural, e ele foi obrigado a deixar o local. “Não posso mais ficar lá”, desabafa.
Os moradores temem que todas as atividades na região fiquem inviabilizadas com o assoreamento do Rio Doce, que se tornou um caldo grosso e escuro que corre em direção ao mar.A cidade tem seu esteio na agricultura e na pecuária.
Entenda o caso
Na madrugada de 6 de novembro, horas depois da tragédia em Bento Rodrigues, a lama proveniente da Barragem do Fundão chegou à Hidrelétrica Risoleta Neves, trazida pelas águas dos rios Gualaxo do Norte e Do Carmo.
Para evitar o rompimento da represa, a Cemig abriu as comportas, deixando que a lama se dirigisse diretamente para o Rio Doce.
Como as barragens de rejeito remanescentes em Bento Rodrigues estão com as estruturas abaladas e podem se romper, o Ministério Público e o governo de Minas recorreram à Justiça para que ela obrigue a Samarco a elaborar um plano de emergência para evitar uma nova tragédia socioambiental.
Uma das exigências desse plano é o esvaziamento total da Hidrelétrica Risoleta Neves, para que ela possa conter uma nova avalanche de lama e evite que os rejeitos voltem a cair no Rio Doce. O prazo para que essa orientação seja cumprida termina hoje.
Entretanto, a Cemig alegou que a represa da hidrelétrica está completamente assoreada e não há como esvaziá-la em 48 horas..