Mariana – Onde corriam as águas, há um leito seco, inerte, marrom. No lugar das árvores, ficaram raízes reviradas, como se fossem esqueletos. E em vez da casa, apenas uma camada de saudade. A lama destruiu a vida em todo canto e se tornou uma palavra maldita para os moradores do subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central. Ontem, algumas famílias puderam voltar ao povoado para procurar objetos pessoais e não conseguiram esconder a emoção e o inconformismo com o que ocorreu.
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Samarco terá que limpar lama que vazou de barragem, diz MPRecuperação de áreas atingidas pela lama da Samarco pode durar até 30 anosBombeiros buscam vítimas de rompimento de barragem no distrito de CamargosDilma diz que ação irresponsável provocou "maior desastre ambiental da história do Brasil"Empresa que controla reservatório de Candonga desmente esvaziamentoA única palavra que Maria Irene encontra para explicar o volume de lama que desceu da barragem é tsunami, que ela viu na tevê e ficou impressionada tal a violência ocorrida na Ásia, na década passada. Ela se enrola um pouco com a palavra e resume: "Foi assim mesmo, uma onda enorme de lama".
Com seu jeito quieto e reservado, característico do mineiro do interior, o aposentado Sílvio Liberato Pereira se mostra ainda impressionado com o lamaçal no qual se transformou a localidade onde viveu por mais de 30 anos.
A dona de casa Terezinha Custódio Quintão, nascida e criada em Bento Rodrigues, teve sucessivos pesadelos com a movimentação de rejeitos de minério. “Sonhei que a lama arrastava minha mãe e eu lutava para resgatá-la”, revelou a ex-moradora da localidade, fundada no século 18 pelo bandeirante Bento Rodrigues, que chegou em busca de ouro. Hoje, se viajasse no tempo, o desbravador encontraria um “cenário de horror”, conforme Terezinha.