Mariana – O pequeno Caíque, de 2 anos, não disfarça a alegria enquanto brinca com um aviãozinho de plástico e bonecos de vários super-heróis. Já Laisa, de 8 meses, adora jogar coloridas bolinhas para o alto. Os dois moravam em Bento Rodrigues, o primeiro lugarejo destruído pelos rejeitos de minério da Samarco, e estão se adaptando à nova realidade das famílias, que, desde a tragédia, em 5 de novembro, moram em hotéis, pousadas ou casas alugadas pela mineradora. No meio de tanto drama, porém, a alegria das crianças ressurge com milhares de brinquedos enviados a Mariana por papais noéis anônimos de todo o Brasil.
“Há doações de Belo Horizonte, do interior de Minas e de outros estados. Eu mesmo ajudei a descarregar caminhões e a separar os brinquedos. Sinto felicidade quando a criança gosta do que encontra nas caixas de papelão”, diz dona Maria de Lourdes, voluntária e moradora de Mariana.
Há brinquedos de plástico, de ferro, de madeira, de pano, de pelúcia... Parte deles foi encaminhada para um prédio público onde outros produtos, como colchões, roupas e calçados, são distribuídos às vítimas da mineradora, controlada pela Vale e BHP Billiton. Diariamente, crianças e adultos vão ao lugar garimpar carrinhos, bonecas, bolas e outros artigos que encantam os pequenos.
A procura, acreditam os voluntários, tende a crescer à medida em que o Natal se a aproxima. Por isso, dona Maria de Lourdes não mede esforços para deixar os brinquedos bem bonitos. Ela ajeita as bonecas, coloca os carrinhos numa prateleira improvisada e se preocupa com a limpeza do lugar.
O pedreiro João Batista, pai de Laisa, a garotinha que se diverte com as bolinhas coloridas, esteve ontem no local e elogiou a dedicação da voluntária. Também fez questão de agradecer aos papais noéis anônimos: “As pessoas nos trouxeram felicidade. A elas, o nosso muito obrigado”. Emocionado, ele conta que conseguia de R$ 60 a R$ 100 por dia na construção civil. Agora, desempregado, o rapaz não sabe como vai recomeçar a vida fora do povoado devastado pelo tsunami de lama.
SUPER-HERÓIS É o mesmo drama de Weslei de Oliveira, pai de Caíque, o garotinho que adorou os super-heróis e o aviãozinho. A alegria do menino em nada lembra o sofrimento dele no início do mês. “Ele ficou seis dias internado no HPS, em BH. Evacuou minério durante todo o tempo que esteve lá”, recorda, com semblante triste, o pai do garoto. Caíque era primo de Emanuele Vitória Fernandes, uma das duas crianças que perderam a vida no tsunami da barragem da Samarco. A lembrança da garota, que tinha 5 anos, emociona Weslei: “Era uma menina alegre”.