A discrepância nas informações sobre a altura atingida pelas barragens da Samarco em Mariana, na Região Central de Minas, e o volume de rejeitos que continham, segundo o cadastro estadual de barragens, era de conhecimento da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). O órgão admitiu que, mesmo detectando erros desde 2012, continuou a publicar informações defasadas, ainda que dissessem respeito a dados críticos para a caracterização do estado de segurança das estruturas. Acrescentou que simplesmente parou essa divulgação em 2014, por só disponibilizar no site “informações que o órgão ambiental julga relevantes para divulgação”. Essa defasagem foi mostrada ontem pelo Estado de Minas. No caso da maior das barragens, de Germano, toda a série histórica informa um volume de 45 milhões de metros cúbicos, quando a estrutura já atingiu o saturamento ao aportar 70 milhões de metros cúbicos de areia, lama e resíduos de minério de ferro.
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Contudo, o acompanhamento pela sociedade civil e por representantes de comunidades de empreendimentos ameaçados ficou comprometido. Esse seria o maior prejuízo, na avaliação do professor de engenharia de minas Roberto Galery, da Universidade Federal de Minas Gerais. “Uma comunidade e as pessoas que estão sob essas barragens precisam viver sob risco mínimo. E uma forma de os profissionais técnicos acompanharem a evolução e a segurança dessas estruturas é pela altura dos barramentos e o volume que comportam”, afirma. Ainda de acordo com o especialista, a falta de transparência, além de comprometer o acompanhamento dos perigos, pode gerar pânico. “A especulação é sempre pior e neste momento assistimos a um levante contra o setor minerário.
De acordo com o presidente da Feam, Diogo Franco, os erros e omissões de informações não serão repetidos. “Todas as informações são importantes, pois constam nos nossos relatórios e definem a segurança de uma estrutura. É uma questão de transparência que está nas nossas metas. A Feam é a única fundação do Brasil que disponibiliza esse relatório, mas estamos preparando uma série de melhorias, informações de dados georreferenciados, por bacia e curso d’água, justamente para aumentar a transparência”, afirma.
DNPM EM VOO CEGO
O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) não tem como conferir se as declarações de volume de rejeitos das barragens condiz com o que as empresas informam ou com os limites impostos nos projetos. A informação é do próprio órgão, que, ao lado da fiscalização estadual, produz registros de volumes e alturas do Plano Nacional de Segurança de Barragens. Segundo o departamento, “deve-se ressaltar, ainda, que o DNPM “não possui estrutura nem condições para aferição dos volumes dessas estruturas, que é realizada por batimetria”.
Mas o órgão reconhece a importância desse instrumento de catalogação dos empreendimentos com barramentos. “A divulgação dos volumes e alturas das barragens de rejeitos é importante para a classificação das estruturas quanto ao risco crítico e dano potencial associado”.