Um ano e três meses depois do rompimento de uma das barragens de rejeitos da Mina Retiro do Sapecado, em Itabirito, que provocou três mortes, a Herculano Mineração firmou termo de compromisso com o Ministério Público de Minas Gerais em que se compromete a pagar R$ 8,5 milhões para recuperação ambiental das áreas degradadas até 2018. O documento indica que a empresa planeja voltar a minerar no local atingido, mas inclui o compromisso de que a Herculano usará a barragem que se rompeu apenas para dar destinação correta aos resíduos, conforme a legislação ambiental, agora utilizando a deposição a seco, para evitar riscos.
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Municípios às margens do Rio Doce ainda sofrem com a escassez e qualidade da águaJustiça federal analisa unificação de ações judiciais contra SamarcoSócios da Herculano Mineração são indiciados por homicídio doloso por tragédia em ItabiritoDepois de mais de um ano, Polícia Civil conclui inquérito sobre rompimento de barragem em ItabiritoBarragem que rompeu em Mariana tinha remendos que órgãos ambientais desconheciam, diz MPAntes da catástrofe da barragem em Mariana, Samarco havia registrado quatro acidentesMoradores de Bento Rodrigues vão receber cartões de auxílio mensal com atrasoOs valores estabelecidos entre o MP e a empresa começarão a ser pagos em setembro do ano que vem, em uma parcela de R$ 4 milhões. Os R$ 4,5 milhões restantes serão divididos em quatro parcelas semestrais de R$ 1,125 milhão, a serem pagas a partir de 31 de março de 2017 ou então da data em que houver a emissão da licença de operação corretiva do empreendimento, caso essa liberação aconteça depois de março de 2017. Além desse montante, a Herculano se comprometeu a disponibilizar R$ 500 mil até 31 de março do ano que vem para o pelotão do Corpo de Bombeiros que atende a cidade de Itabirito.
Outra obrigação da companhia que consta no termo assinado com o MP é o monitoramento permanente da qualidade das águas do Ribeirão do Silva, até que seja executado o plano de fechamento da mina. O curso d’água, que é afluente do Rio Itabirito, foi atingido pelos rejeitos minerais na época do desastre. O termo foi assinado pelos promotores Vanessa Campolina Rebello Horta, Mauro da Fonseca Ellovitch e Carlos Eduardo Ferreira Pinto e não exclui as responsabilizações penal e civil da mineradora perante terceiros e também penalidades ou ações aplicadas por outros órgãos ambientais. Três representantes da Herculano assinaram o acordo: Jairo Herculano, Mardoqueu Herculano e Gláucio Herculano.
Três perguntas para...
Carlos Eduardo Ferreira Pinto, Coordenador do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais (Nucam) do Ministério Público de Minas Gerais
1 - Por que o MP mineiro considera importante o acordo com a mineradora Herculano?
É uma barragem que rompeu também no período seco e não se trata de coincidência. Outro ponto em comum com a tragédia de Mariana, que hoje tem 11 mortos, a maioria é formada por operários que faziam as intervenções. Na barragem de Herculano, os três que morreram eram funcionários que faziam intervenções no mesmo momento do rompimento e foram identificadas irregularidade na manutenção da estrutura. Outro fato que aproxima os casos é quanto as intervenções que estavam sendo feitas nas barragens. A de Herculano estava passando por um alteamento e aquilo levou a uma fragilidade que ocasionou o rompimento.
2 - Foi isso que fez romper a Barragem do Fundão?
Tivemos cinco meses para deliberar as causas do rompimento da Barragem da Herculano. Ainda estamos estudando as hipóteses que levaram ao rompimento do Fundão.
3 - O acordo também prevê barragens a seco.
Não para todas as barragens de Minas, mas é preciso buscar o processo de empilhamento a seco em casos concretos. Em Itabirito você tem condomínios e comunidades a jusante, tem o Ribeirão Silva, que seriam prejudicados com um rompimento. É algo que tem de ser levado em consideração.
Enquanto isso... Inquérito ainda em andamento
Mais de um ano depois da tragédia de Itabirito, que causou a morte de três pessoas e espalhou lama por ribeirões e uma vasta região no entorno de uma das barragens da mineradora Herculano, o inquérito policial que busca os responsáveis pelo desastre ainda não está pronto. A delegada Mellina Isabel Clemente, que conduz as investigações, informou, por meio da assessoria de imprensa da Polícia Civil, que o inquérito está em fase final de conclusão, mas não adiantou quem será responsabilizado pelos três homicídios e crimes ambientais contra a fauna e flora..