Não chega a ser uma espécie de "dark tourism", como diz a expressão em inglês, mas o fato é que muita gente está viajando quilômetros para visitar os escombros dos dois povoados de Mariana, na Região Central de Minas, destruídos pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério, em 5 de novembro. Uma dessas pessoas é a professora aposentada de história Eliane de Souza, de 60 anos, que mora no Bairro Sagrada Família, na Região Leste de Belo Horizonte. Ontem ela pegou a estrada pela segunda vez em uma semana, rumo a Mariana, para olhar de perto o que restou de Paracatu de Baixo.
Eliane conta que também viajou no domingo passado, mas, como saiu de casa depois do almoço e tinha que voltar no mesmo dia, só deu tempo para conhecer Bento Rodrigues, o lugarejo que simplesmente sumiu do mapa depois da passagem do mar de lama. Ontem ela estava acompanhada de dois amigos, entre eles a francesa Sylviane Raganaud, de 38. Eles fotografaram e filmaram toda a destruição que encontraram pela frente.
“Estou escandalizada. Se perder tudo já é difícil, perder a referência da sua vida é pior ainda. Vim especialmente para olhar de perto a dimensão da tragédia. Foi uma negligência geral, não apenas da mineradora”, reagiu a professora, que se emocionou ao encontrar uma carteira escolar que foi arrastada pela lama. “Olha lá, um varal ainda com roupas”, apontou ela.
Para o amigo que a acompanhava, que preferiu não ser identificado, a realidade é muito mais triste vista de perto. “Olhar o que aconteceu pela televisão é uma coisa, vivenciar a realidade pessoalmente é outra. Eu não diria que estou chocado. A palavra certa é decepcionado”, comentou. A francesa também se emocionou. “As pessoas perderam tudo, perderam quem elas amavam, perderam as suas lembranças, o passado. A única coisa que vai se manter viva na memória delas pelo resto da vida é a tragédia”, disse Sylviane.
A lama que chegou a encobrir algumas casas está secando e já é possível caminhar pelos escombros e imaginar como deveria ser a vida das pessoas que ali viviam. Em praticamente todas as casas havia algum quadro ou peça religiosa nas paredes, um pôster do Atlético ou do Cruzeiro, um quadro de formatura. No quarto de uma criança, a boneca Barbie permaneceu pendurada na parede, junto de duas medalhas de competição. Em um antigo banheiro somente restou uma escova no armário da pia, emoldurado pela lama. Em muitas paredes que resistiram à tragédia, a imagem de Nossa Senhora Aparecida se manteve firme.
Nos escombros ao lado da igreja há uma espécie de altar improvisado sobre um armário. São vários livros em meio à lama. Um deles, Regra da Sociedade São Vicente de Paulo, está junto a uma peça de metal dourado, possivelmente sacra. Dentro da igreja, tudo está revirado. A força da lama amontou os bancos de madeira em um canto. As vestimentas do padre estão ao lado da iluminação de Natal, que nem chegou a ser instalada. Peças que ainda devem permanecer no lugar por um bom tempo, pois não é possível entrar na igreja. Como o telhado resistiu, a lama no interior do templo, protegida do sol, mais parece areia movediça.
Eliane conta que também viajou no domingo passado, mas, como saiu de casa depois do almoço e tinha que voltar no mesmo dia, só deu tempo para conhecer Bento Rodrigues, o lugarejo que simplesmente sumiu do mapa depois da passagem do mar de lama. Ontem ela estava acompanhada de dois amigos, entre eles a francesa Sylviane Raganaud, de 38. Eles fotografaram e filmaram toda a destruição que encontraram pela frente.
“Estou escandalizada. Se perder tudo já é difícil, perder a referência da sua vida é pior ainda. Vim especialmente para olhar de perto a dimensão da tragédia. Foi uma negligência geral, não apenas da mineradora”, reagiu a professora, que se emocionou ao encontrar uma carteira escolar que foi arrastada pela lama. “Olha lá, um varal ainda com roupas”, apontou ela.
Para o amigo que a acompanhava, que preferiu não ser identificado, a realidade é muito mais triste vista de perto. “Olhar o que aconteceu pela televisão é uma coisa, vivenciar a realidade pessoalmente é outra. Eu não diria que estou chocado. A palavra certa é decepcionado”, comentou. A francesa também se emocionou. “As pessoas perderam tudo, perderam quem elas amavam, perderam as suas lembranças, o passado. A única coisa que vai se manter viva na memória delas pelo resto da vida é a tragédia”, disse Sylviane.
A lama que chegou a encobrir algumas casas está secando e já é possível caminhar pelos escombros e imaginar como deveria ser a vida das pessoas que ali viviam. Em praticamente todas as casas havia algum quadro ou peça religiosa nas paredes, um pôster do Atlético ou do Cruzeiro, um quadro de formatura. No quarto de uma criança, a boneca Barbie permaneceu pendurada na parede, junto de duas medalhas de competição. Em um antigo banheiro somente restou uma escova no armário da pia, emoldurado pela lama. Em muitas paredes que resistiram à tragédia, a imagem de Nossa Senhora Aparecida se manteve firme.
Nos escombros ao lado da igreja há uma espécie de altar improvisado sobre um armário. São vários livros em meio à lama. Um deles, Regra da Sociedade São Vicente de Paulo, está junto a uma peça de metal dourado, possivelmente sacra. Dentro da igreja, tudo está revirado. A força da lama amontou os bancos de madeira em um canto. As vestimentas do padre estão ao lado da iluminação de Natal, que nem chegou a ser instalada. Peças que ainda devem permanecer no lugar por um bom tempo, pois não é possível entrar na igreja. Como o telhado resistiu, a lama no interior do templo, protegida do sol, mais parece areia movediça.